Endometriose: nova investigação pode ajudar a adequar tratamentos às várias formas da doença

Investigadores de Sydney criaram, em laboratório, tecidos de vários tipos de endometriose. O avanço científico pode permitir adequar tratamentos às especificidades da doença.

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A endometriose afecta cerca de uma em cada dez mulheres. Kinga Krzeminska/Getty Images
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É um avanço promissor no tratamento da endometriose. Na Austrália, investigadores do Royal Hospital for Women, em Sydney, conseguiram desenvolver em laboratório tecidos de todos os tipos de endometriose descobertos até agora.

Este processo pode ajudar a estudar a forma como os vários tecidos respondem a tratamentos específicos e, consequentemente, adequar as terapias aos diferentes tipos de endometriose. Ao The Guardian, Jason Abbott, professor de Obstetrícia e Ginecologia no Royal Hospital for Women, comparou os avanços aos que foram feitos no tratamento de cancro da mama.

A endometriose é uma doença crónica de carácter inflamatório e hormonal. Verifica-se quando o endométrio, tecido que reveste o útero, começa a crescer noutras partes do corpo. Afecta uma em cada dez mulheres em idade fértil e as causas para o aparecimento da doença não são conhecidas.

As pessoas com endometriose costumam sentir dor pélvica intensa, que pode estar associada à menstruação e à função sexual. Historicamente, estas dores eram tidas como “normais”, o que atrasava os diagnósticos e subsequentes tratamentos. Outros sintomas incluem náuseas e vómitos, sangramento anal ou na urina e infecções urinárias recorrentes.

Catarina Maia é activista para a literacia sobre endometriose e foi ela mesma diagnosticada com a doença em 2017. Recebeu a notícia dos avanços dos investigadores australianos com esperança: “Com a endometriose, [o tratamento] funciona muito por tentativa e erro. Existem tratamentos muito invasivos que depois acabam por não ter qualquer tipo de benefício. Acho que estes estudos trazem muito optimismo para o futuro.”

A activista sublinha que há dois problemas no diagnóstico da doença em Portugal: o atraso no diagnóstico propriamente dito — que pode demorar cerca de sete anos a concretizar-se — e a falibilidade das técnicas de diagnóstico. “Precisamos de formas mais eficazes de conseguir identificar a doença”, considerou. Quanto aos tratamentos, a figura não fica muito melhor. Os tratamentos que existem não são acessíveis a todos os bolsos.

“Para se conseguir um diagnóstico em tempo útil, muitas mulheres recorrem ao privado, porque podem fazê-lo. Mas depois terão de fazer um tratamento através do privado e como é que o pagam? Existe muito pouca comparticipação das diversas abordagens de tratamento e pouca comparticipação nos exames de diagnóstico. Infelizmente, os tratamentos, [mesmo] tendo as limitações que têm, também não são acessíveis”, explica.

Ainda assim, Catarina não deixa de ressalvar os avanços que têm sido feitos na direcção certa: “A endometriose já é um vocábulo que quem está no Governo começa a conhecer.” Encara os avanços científicos com optimismo, mas, com pena, não acredita que as novas terapêuticas cheguem a Portugal em breve: “Se neste momento os tratamentos que temos são de difícil acesso e pouco comparticipados, a partir de que momento vamos conseguir tirar proveito dos tratamentos inovadores que vierem?”, questiona.

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