A guerra dos drones

Putin prometera que esta “operação militar especial na Ucrânia” não seria uma ameaça para a população, mas o futuro poderá desmenti-lo.

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Primeiro Kiev, a seguir Moscovo. À falta de armamento e de efectivos, com a consequente estagnação das posições militares no terreno, a guerra da Ucrânia dá indícios de entrar numa nova fase. Os drones passaram a ser a opção mais frequente e simples para bombardear as cidades ucranianas e a capital russa passou a estar ao alcance de retaliações dos mesmos aparelhos.

Foi o que voltou a acontecer nesta terça-feira. De um lado, temos os Shahed de fabrico iraniano. Do outro, os ucranianos terão conseguido fabricar os seus próprios aparelhos, segundo aventava o The Guardian: o UJ-22 tem um alcance de voo de 800 quilómetros, quase o dobro da distância entre a capital russa e a fronteira ucraniana.

Os bombardeamentos russos já não espantam ninguém, mas a aparente vulnerabilidade russa, depois de um suposto ataque ao Kremlin, e agora a uma zona da cidade mais abastada, onde Vladimir Putin possui uma residência, reforça uma variável incerta: a autoria do envio destes drones.

A Ucrânia rejeita a autoria dos ataques a Moscovo, que a Rússia lhe atribui, mas acrescenta que os observa com “grande prazer” e prevê, inclusive, que o seu número irá aumentar, como admitiu um conselheiro do Presidente. A par disto, supostas milícias da oposição a Putin reivindicam incursões armadas na região fronteiriça de Belgorod.

Embora não se saiba muito de concreto sobre estes ataques, percebe-se que os ucranianos podem estar mais capazes de atacar alvos russos (e de exportar a guerra para solo inimigo) e que Vladimir Putin poderá ter de enfrentar um arremedo de guerrilha interna em fase larvar.

É claro que não há aqui qualquer paridade militar e que a consequência de um bombardeamento russo não tem qualquer paralelo quando comparado com as tentativas ucranianas. Mas o simbolismo também conta. Um deputado da câmara baixa do Parlamento russo disse que este tinha sido o ataque “mais grave em território russo desde a Segunda Guerra Mundial” e que nenhum cidadão poderá agora evitar o que diz ser a “nova realidade”.

Putin prometera que esta “operação militar especial na Ucrânia” não seria uma ameaça para a população, mas o futuro poderá desmenti-lo. O aumento dos ataques em solo russo, nomeadamente a alvos civis, como meio de pressão sobre o povo russo, pode ser um desesperante antídoto ucraniano para a megalomania do Kremlin. A guerra só gera desespero.

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