Desde 2017 que FIFA permite que árbitros suspendam jogos por racismo
Responsáveis pelo campeonato espanhol culpam a legislação em Espanha, que não permite que a entidade puna os clubes com adeptos que participem de actos racistas nos estádios.
Não estando imune aos problemas da sociedade, a história do futebol tem convivido lado a lado com o racismo nas últimas décadas, mas, nos últimos anos, a complacência com atitudes racistas ou xenófobas tem sido cada vez menor. Tendo a seu cargo a responsabilidade de gerir a modalidade a nível mundial, a FIFA permite, desde 2017, que os árbitros suspendam um jogo devido a atitudes racistas de adeptos.
As directrizes têm seis anos e foram adoptadas a pensar no Mundial 2018. Em 2015, em entrevista ao jornal britânico The Guardian, Hulk, na altura jogador do Zenit, disse ser vítima de racismo em “quase todos os jogos” do campeonato russo. O antigo avançado do FC Porto explicou que tais actos, que eram “frequentes”, aconteciam “quando os clubes russos” jogavam fora de casa, acrescentando que se esse comportamento acontecesse no Mundial 2018, seria “nojento e muito feio”.
O receio que o Mundial 2018, já envolto em polémica devido às suspeitas de corrupção na atribuição da prova à Rússia, ficasse manchado por atitudes de racismo vindas das bancadas, forçou Gianni Infantino a tomar uma medida preventiva.
Assim, no final de 2017, o presidente da FIFA revelou que qualquer forma de discriminação não seria tolerada no Campeonato do Mundo. No que era anunciado como uma “alta prioridade" para o órgão regulador, Infantino deu a conhecer as directrizes que os árbitros deviam passar a seguir.
“Numa primeira fase interrompe-se o encontro e pede-se que [os adeptos] parem [com os comportamentos racistas]. Num segundo momento, os jogadores abandonam o relvado e anuncia-se que se os comportamentos continuarem a partida será suspensa. Depois do jogo ser retomado, e caso os comportamentos se mantenham, a partida deverá ser suspensa e os três pontos serão atribuídos à equipa visitante.”
Cerca de ano e meio mais tarde, alegando que o combate ao racismo e à discriminação tem de estar em “constante actualização”, a FIFA deu a conhecer novas medidas, que passavam por duplicar no seu código disciplinar o castigo mínimo previsto para intervenientes do futebol - atletas, treinadores ou dirigentes - que tivessem comportamentos racistas. Os punidos por esta prática, passavam a ser castigados com uma suspensão por dez jogos.
As directrizes da FIFA não terão, no entanto, sido seguidas no polémico Valência-Real Madrid, encontro no qual Vinícius Júnior foi vítima de insultos racistas por parte de adeptos valencianos. A culpa, segundo os responsáveis pela La Liga, é da legislação de Espanha, que não permite que a entidade puna os clubes com adeptos que participam de actos racistas nos estádios.
“Apesar da luta continuada contra a violência e o racismo, até ao limite das suas competências, a La Liga sente uma imensa frustração devido à ausência de sanções que as suas denúncias têm merecido dos órgãos disciplinares desportivos, de justiça e administração pública”, indicou o organismo, em comunicado.