G7 falhou ao Sul Global, dando menos de metade da verba pedida pela ONU para crises humanitárias

ONU tinha feito um cálculo de 51 mil milhões de euros, da cimeira de Hiroxima saiu apenas um compromisso de 19,4 mil milhões. ONG criticam também a inclusão do gás na transição energética.

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Protesto contra a cimeira do G7 em Hiroxima KIMIMASA MAYAMA/EPA
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Várias organizações humanitárias criticaram este sábado os membros do G7 por considerarem que a cimeira da Hiroxima, no Japão, é um "fracasso para o Sul Global", apesar do compromisso de destinar 21 mil milhões de dólares (cerca de 19,4 mil milhões de euros) para ajudar nas crises humanitárias mais graves.

"O G7 falhou com o Sul Global em Hiroxima. Não perdoaram dívidas e não souberam reconhecer o que é realmente necessário para acabar com o aumento da fome a nível global", disse um porta-voz da Oxfam, Max Lawson. "Podem canalizar milhares de milhões para a guerra, mas não podem oferecer nem metade do que a ONU precisa para as crises humanitárias mais graves", criticou.

O comunicado do G7 prevê uma verba de 21 mil milhões de dólares "para lidar com as crises humanitárias que mais se agravaram este ano, incluindo a urgente crise alimentar", muito longe do valor avançado pela ONU de 55 mil milhões de dólares (51 mil milhões de euros).

Várias organizações denunciaram a redução dos fundos para ajuda humanitária, não apenas porque parte dessa ajuda foi desviada para a Ucrânia e os seus refugiados, mas também porque grande parte dela foi erodida pelo aumento dos gastos militares.

Friederike Roeder, da Global Citizen, diz que o comunicado final do G7 acerta "completamente ao lado" porque "não cumpre com o objectivo realmente necessário: a acção". Roeder criticou a falta de medidas concretas e do compromisso de destinar 100 mil milhões de dólares (92,65 mil milhões de euros) anualmente para a protecção climática.

"O papel da Alemanha neste anúncio é particularmente decepcionante. O desempenho da União Europeia na diplomacia internacional é crucial, mas será impossível se a Alemanha, o maior país, continuar a concentrar a sua capacidade de negociação em novos investimentos no gás, em vez de liderar o caminho para um futuro sem combustíveis fósseis", argumentou, num comunicado divulgado pela agência de notícias alemã DPA.

Apoio temporário ao gás

No comunicado dos líderes do G7, da cimeira deste sábado em Hiroxima, foi incluído o apoio a investimentos em gás, como medida "temporária", numa altura em que alguns países, principalmente a Alemanha, procuram desvincular-se da energia russa.

Na reunião de Abril dos ministros do Ambiente do G7 houve discordâncias entre o Japão e os países europeus, mas, no final, concordaram que os investimentos em gás "podem ser apropriados para ajudar a lidar com possíveis lacunas no mercado" após a invasão russa da Ucrânia e a consequente interrupção nos mercados globais de energia.

O comunicado dos líderes do G7 inclui novamente os investimentos em gás, justificando com a necessidade de "acelerar a redução" da "dependência da energia russa".

"Salientamos o papel importante que o aumento das entregas de GNL [gás natural liquefeito] pode desempenhar e reconhecemos que o investimento no sector pode ser apropriado em resposta à crise actual, e para lidar com possíveis lacunas no mercado de gás provocadas pela crise", afirmou o comunicado.

A redução gradual dependerá da "economia da energia e da redução da procura de gás" em conformidade com os objectivos do Acordo de Paris e da aceleração do desenvolvimento de energias renováveis, afirmou o documento, considerando a energia limpa como meio de segurança energética.

"Face à necessidade urgente de eliminar os combustíveis fósseis, o que os líderes trouxeram à mesa representa uma defesa do novo gás fóssil", afirmou Tracy Carty, especialista em Política Climática Global da Greenpeace, em comunicado.

Membros do Governo alemão rejeitaram essa crítica, afirmando que os investimentos são necessários para que a Alemanha se possa libertar do gás russo e encontrar uma fonte de substituição.

"Também precisamos de algumas novas centrais de energia a gás, mas devem ser construídas de forma que possam funcionar com hidrogénio verde no futuro. Portanto, é um investimento também no futuro limpo", disse um membro do Governo alemão, citado pela Reuters.

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