Frederico Pinheiro nega ameaças e pondera processar Costa e Galamba
Antigo assessor de João Galamba voltou a denunciar estar a ser vítima de uma história criada pela “máquina comunicacional do Governo”, desmentindo partes do depoimento do ministro na CPI da TAP.
Frederico Pinheiro admitiu esta sexta-feira que está a ponderar processar João Galamba e o primeiro-ministro, António Costa, por difamação. Em entrevista ao Jornal Nacional da TVI, o antigo assessor do ministro das Infra-Estruturas disse não haver dúvidas de que João Galamba e António Costa o “difamaram publicamente” na sequência da sua exoneração e dos incidentes de 26 de Abril no edifício do ministério, em Lisboa.
“A decisão não se prende por matéria”, explicou. “Existe matéria jurídica para se avançar com uma queixa-crime. Tudo isto depende de uma decisão pessoal”.
Frederico Pinheiro negou ainda ter ameaçado o ministro das Infra-Estruturas, tal como João Galamba alegou na quinta-feira, ouvido pela comissão parlamentar de inquérito (CPI) à TAP. "O sr. ministro não está a dizer a verdade, não houve nenhuma ameaça da minha parte. O sr. ministro das Infra-Estruturas ameaçou-me", reiterou, garantindo, da sua parte, não ter ficado exaltado durante a chamada em que João Galamba comunicava o seu despedimento. O ex-adjunto disse tratar-se de "uma narrativa que está a ser montada" e de existir “uma tentativa de se transformar o agredido em agressor”.
Na entrevista, Pinheiro voltou a afirmar que os nove documentos classificados presentes no seu agora famoso antigo computador de trabalho foram classificados por sua própria sugestão, contrariamente ao que foi referido por João Galamba e pela sua chefe de gabinete, Eugénia Correia. A maior parte dos documentos estavam no arquivo do ministério – o único que apenas se encontrava no computador do ex-assessor era uma versão confidencial do plano de reestruturação da TAP.
O ex-adjunto disse não ter conhecimento de que João Galamba "tenha tido o cuidado de ler" o plano de reestruturação: "Nunca transmiti esse documento porque nunca me foi pedido. O que não deixa de ser estranho, porque é um documento muito importante, é o documento mais importante que está no Ministério das Infra-Estruturas".
Sobre a noite de 26 de Abril, em que voltou ao ministério para recuperar o computador, horas depois de ter sido exonerado por telefone, Pinheiro negou novamente ter agredido qualquer pessoa, acrescentando que tentou "proteger a mochila" em que levava o computador e os seus pertences. Em reacção às declarações de Eugénia Correia, que durante a sua audição disse ter tentado recuperar a mochila, Frederico Pinheiro sublinhou esse é um "dado novo" em relação à história que tem sido difundida "pela máquina comunicacional do Governo".
"Nunca tinha sido referida a iniciativa por parte das pessoas, de que tinham sido as próprias a interagir comigo para me roubarem a mochila", notou, acrescentando achar difícil que quatro pessoas se tenham "atirado" à mochila sem que alguma lhe tocasse. "Há uma outra contradição: [Eugénia Correia] disse que não houve utilização da força para me impedir de sair do ministério, ao mesmo tempo que, minutos antes, tinham referido que três pessoas se tinham atirado para me roubar a mochila", apontou. Sobre os incidentes dessa noite, o ex-adjunto reiterou ainda que não houve roubo do computador e que apenas se deslocou ao ministério para fazer uma cópia de documentos pessoais.
Sobre a reunião do grupo parlamentar do PS com a reunião da CEO da TAP, na véspera da audição da responsável no Parlamento, cujas notas e o seu paradeiro originaram todo este caso, Frederico Pinheiro afirmou não se recordar de ter "participado em reuniões deste género", sublinhando assim o carácter excepcional da reunião e contrariando a versão de João Galamba, que diz que estes encontros são habituais.
João Galamba afirmou não ter participado na reunião mas apenas entrado e saído duas vezes para perguntar sobre o decorrer da mesma, um relato que Pinheiro contrariou, dizendo ser "muito pouco credível". O ex-adjunto reiterou novamente que as notas que tirou nessa reunião nunca lhe foram solicitadas pelo ministro ou pelo seu gabinete. "O envio dessas notas só me é solicitado no dia 24 de Abril", repetiu.
Sobre idas nocturnas de Frederico Pinheiro ao ministério, que João Galamba descreveu na CPI como deslocações “a horas impróprias” durante as quais consultava documentos e tirava fotocópias, sugerindo desta forma um comportamento suspeito que também terá sustentado a decisão da exoneração, o ex-adjunto justificou-se com a procura de uma conciliação do trabalho com a vida pessoal, garantindo ter um horário flexível que seria conhecido pelo ministro.
“Comecei a trabalhar no Governo há seis anos. Foi na altura, não por acaso, que tive o meu primeiro filho, e desde o início que foi importante para mim conciliar as minhas obrigações laborais com as minhas obrigações familiares”, referiu, dando exemplos como sair mais cedo para ir buscar os filhos à escola, regressando ao local de trabalho ao final do dia. “Sou treinador de andebol. Duas vezes por semana, acabo os meus treinos às 23h e voltava [ao Ministério, por vezes”, continuou, acrescentando que a desconfiança agora revelada por João Galamba na CPI nunca lhe foi transmitida durante o exercício das suas funções.
Frederico Pinheiro manifestou estranheza pelo facto de terem sido "espoletados" meios da Polícia Judiciária (PJ) e do Serviço de Informações de Segurança (SIS) para recuperar o computador já depois de ter sido manifestada a intenção de entregar voluntariamente equipamento. E confessou ter-se sentido ameaçado quando foi impedido de levar uma testemunha para a entrega do dispositivo – queria fazê-lo na presença de uma procuradora sua familiar, mas foi pressionado a ir sozinho.
"Não utilizo as palavras de forma leve. Eu peso e pondero tudo o que digo. Se referi na CPI que me senti ameaçado, intimidado, pelo SIS, obviamente que sublinho isso, e é porque tenho substância para o afirmar", garantiu.
Incidente no Ministério das Infra-Estruturas é "lamentável", diz Mariana Vieira da Silva
Minutos depois da entrevista ao ex-adjunto, a ministra Mariana Vieira da Silva esteve também na CNN Portugal, onde começou por reconhecer que “tudo o que aconteceu no Ministério das Infra-Estruturas tem impacto” no Governo e que o que sucedeu “não é normal” — “É, a todos os títulos, lamentável”.
Porém, a ministra considerou que “a dimensão que envolveu o primeiro-ministro e o Presidente da República ficou tratada” e que não se deve alimentar a conversa sobre assuntos que não estão no centro da actividade do executivo.
Sobre a comissão de inquérito que decorre no Parlamento, Mariana Vieira da Silva defendeu que “não se deve tirar conclusões a cada nova ronda de audições”, mas sim esperar pelo fim dos trabalhos.
Mariana Vieira da Silva assumiu ainda que quer “contribuir para a serenidade” e comentou a leitura que fez das declarações de Marcelo Rebelo de Sousa. “O Presidente quis mostrar que não há nada de novo”, disse a ministra da Presidência.