Adidas vai vender parte do stock da Yeezy e doar lucros

O gigante alemão do vestuário desportivo tem estado numa situação difícil desde que cortou relações com Kanye West devido aos comentários anti-semitas do rapper.

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Kanye West durante a apresentação de uma colecção Yeezy Reuters/ANDREW KELLY/arquivo
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A Adidas vai vender alguns dos artigos da sua extinta parceria Yeezy com o rapper Kanye West, também conhecido por Ye, e doar parte das receitas a organizações internacionais, disse o director executivo Bjoern Gulden nesta quinta-feira.

O gigante alemão do vestuário desportivo tem estado numa situação difícil em relação ao stock da linha Yeezy desde que cortou relações com West devido aos seus comentários anti-semitas, no final do ano passado, com a controvérsia a pesar sobre as suas acções e a afectar os seus resultados.

Milhões de sapatilhas da marca Yeezy, com um valor de venda a retalho de 1,2 mil milhões de euros, estão armazenadas depois de a sua venda ter sido suspensa. Ao mesmo tempo, o seu valor no mercado de revenda disparou desde que a Adidas deixou de as produzir, tendo alguns modelos mais do que duplicado de preço.

Dirigindo-se aos investidores na cidade de Fuerth, no Sul da Alemanha, depois de o descalabro ter contribuído para o primeiro prejuízo anual da empresa em 31 anos, Gulden disse que ainda não tinha sido determinado quando e como a venda planeada iria prosseguir.

“O que estamos a tentar fazer agora ao longo do tempo é vender alguma desta mercadoria... queimar os bens não seria uma solução”, disse, acrescentando que as receitas serão doadas a organizações internacionais que West, que mudou o seu nome para Ye em 2021, tinha prejudicado com os seus comentários.

Gulden disse que a empresa tinha decidido não doar os ténis para evitar que chegassem ao mercado de uma forma indirecta.

As acções da Adidas subiam 2% às 12h45 GMT (13h45, em Lisboa).

“É uma medida inteligente e responsável”, afirmou Ed Stoner, um consultor da indústria do vestuário desportivo que trabalhou anteriormente na Adidas, acrescentando que “não só preserva a integridade da marca como evita uma crise de sustentabilidade”.

Ao vender parte do stock, a empresa está potencialmente a minimizar uma perda de 700 milhões de dólares (640,8 milhões de euros) em 2023, mas não é claro que quantidade será vendida e que proporção das receitas será doada.

Se os produtos forem vendidos, Ye terá direito a comissões previamente acordadas (15% do volume de negócios, de acordo com os meios de comunicação social). A Adidas recusou-se a comentar o assunto.

Gulden defendeu a colaboração de anos da Adidas com o rapper, dizendo que “por muito difícil que ele fosse, é talvez a mente mais criativa da nossa indústria”. O actual responsável da marca tinha comentado recentemente, quando ainda era director executivo da Puma, que invejava a Adidas por esta colaboração.

Também na quinta-feira, o director financeiro da Adidas, Harm Ohlmeyer, anunciou que uma investigação interna sobre a alegada má conduta de Ye — incluindo a exibição de material pornográfico, comentários anti-semitas e assédio a funcionárias — não tinha encontrado fundamento para as acusações.

No entanto, a investigação também concluiu que o comportamento errático e, por vezes, inapropriado do rapper criou um ambiente de trabalho difícil na Adidas, adianta Ohlmeyer, acrescentando que a empresa está agora a implementar medidas para evitar que tais problemas ocorram no futuro.

Uma acção judicial num tribunal de arbitragem alemão, na qual a Adidas pede uma indemnização à Ye, ainda está na fase inicial e não foi determinado qualquer montante financeiro, segundo Ohlmeyer.