Príncipe Harry levou ghostwriter ao desespero, mas ficaram amigos

O escritor J.R. Moehringer trabalhou com o duque de Sussex durante mais de dois anos na escrita de Na Sombra. A empatia entre os dois foi imediata e até chegou a dormir na casa do príncipe.

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O duque de Sussex esteve na coroação de Carlos III Reuters/DYLAN MARTINEZ
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Harry entrou na abadia acompanhado das primas Beatrice e Eugenie Reuters/POOL
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O príncipe cumprimentou algumas pessoas enquanto entrava na abadia Reuters/TOBY MELVILLE
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Quando se soube quem era o ghostwriter do livro de memórias do príncipe Harry, muito se disse sobre J.R. Moehringer — até que teria sido George Clooney a apresentá-los. Agora, o escritor veio contar a sua versão dos factos, num texto publicado na revista The New Yorker. Trabalhar com o duque de Sussex durante dois anos foi das melhores experiência da sua carreira, com excepção de uma discussão que o levou ao desespero, confessou.

Houve uma discussão numa madrugada do Verão de 2022 que levou o escritor a pensar que seria despedido. J.R. Moehringer e Harry estavam a escrever uma passagem difícil, sobre uma simulação militar, onde o príncipe era capturado por suspeitos de terrorismo. “Era uma simulação, mas a tortura foi real”, escreve o autor.

Após terem agredido o príncipe e ordenado que se despisse, os falsos sequestradores evocaram a memória da princesa Diana. “Até os falsos terroristas admitem que quebraram uma regra inviolável. Tocar naquela ferida específica, a memória da mãe que já morreu, passa os limites”, recorda Moehringer.

Depois da simulação, os sequestradores pediram desculpas a Harry, que lhes terá respondido à letra. O príncipe queria incluir essa resposta no livro, mas o escritor achou “desnecessário e parvo”. Contudo, o duque de Sussex não queria abrir mão deste pormenor. “Fiquei desesperado, a minha cabeça doía. Não era a primeira vez que discutíamos, mas notei algo de diferente… como se nos estivéssemos a aproximar de um momento decisivo”, revela.

Foi então que Harry lhe fez uma confissão: “Ele suspirou e explicou calmamente que, ao longo da vida, as pessoas sempre menosprezaram as suas capacidades intelectuais. Essa frase [que queria incluir] mostrava que, mesmo depois de ter sido agredido, privado de sono e comida, ainda era inteligente.”

Depois de uma discussão acesa, Moehringer achou que seria despedido “mal o sol nascesse”, questionando-se sobre se deveria ter deixado o príncipe levar a sua ideia avante. “Não me importava com o dinheiro. Todo o tempo e esforço que tinha colocado nas memórias… ia tudo desaparecer”, conta. Mas nada disso aconteceu e a frase nunca chegou a ver a luz do dia — não se sabe quais seriam as palavras.

Uma amizade

Foi esse o único incidente da construção daquele que seria o livro mais vendido de sempre após a publicação. Moehringer e Harry começaram a trabalhar juntos em 2020, quando a pandemia de covid-19 só permitia que se reunissem por Zoom. Mas, depois, o antigo jornalista visitou o príncipe e a família em Montecito, na Califórnia, por três vezes.

Uma vez teve até oportunidade de levar a mulher e a filha de cinco anos, que garante ter ficado encantada com o príncipe. Das vezes em que esteve lá sozinho, Meghan e Archie visitavam-no na casa de hóspedes "durante os seus passeios nocturnos". E sobre a duquesa de Sussex só tece elogios: “Sabendo que sentia falta da minha família, Meghan levava-me sempre bandejas de comida e doces.”

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Quando os duques de Sussex anunciaram a sua partida do Reino Unido, em 2020 NEIL HALL

A empatia entre os dois foi imediata, apesar de o ghostwriter ter tido dúvidas sobre se aceitaria este trabalho, já que acabara de ter duas más experiências com livros de memórias de outras celebridades. O que o surpreendeu não foram propriamente os assuntos que Harry queria abordar, mas o facto de não haver um prazo para terminar a obra — levando a crer que o príncipe não fez o livro por dinheiro.

Além disso, outro pronto uniu o escritor e o filho de Carlos III, quando os dois se conheceram. “A princesa Diana tinha morrido há 23 anos. A minha mãe tinha acabado de morrer.” Apesar da diferença temporal, o sofrimento de ambos era semelhante, assegura. “Achei a sua história muito fácil de nos identificarmos e até desesperante. A forma como foi tratado, tanto por estranhos como pela família, foi horrível.”

Por estes dias, Harry voltou ao Reino Unido e esteve com a família pela primeira vez, desde que foi lançado Na Sombra. De acordo com o The Telegraph, o príncipe esteve menos de 28 horas em Londres — chegou na sexta-feira e partiu no sábado durante a tarde — e não terá chegado à fala nem com o pai, nem com o irmão William.

O duque de Sussex chegou à cerimónia de coroação, na Abadia de Westminter, acompanhado das primas Eugenie e Beatrice, sentando-se na terceira fila, longe dos membros activos da família real. Durante a cerimónia foi visto a conversar com a prima Eugenie, mas, de resto, passou despercebido. Até era fácil que alguém se esquecesse que se trata do filho mais novo do rei.

Harry ainda terá passado pelo Palácio de Buckingham, mas sem se cruzar com nenhum membro da família. Depois, seguiu para o aeroporto na tentativa de ainda chegar a tempo da festa de aniversário do filho, o príncipe Archie, que celebrava quatro anos no sábado, 6 de Maio.

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