Hungria libertou ídolo da extrema-direita antes da chegada do Papa

Gyorgy Budaházi, condenado a 13 anos de prisão por ataques contra políticos de esquerda, saiu da prisão na sexta-feira.

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A amnistia foi concedida pela Presidente da Hungria, Katalin Novák, que esteve presente na despedida do Papa Francisco Reuters/MARTON MONUS

Horas antes de o Papa Francisco ter chegado a Budapeste, na sexta-feira, para uma visita oficial de três dias que terminou neste domingo — e ficou marcada pelos alertas do líder da Igreja Católica contra o crescimento dos nacionalismos na Europa —, a Presidente da Hungria, Katalin Novák, amnistiou um dos mais violentos activistas da extrema-direita do país.

Gyorgy Budaházi, fundador de um grupo paramilitar responsável por vários ataques contra políticos de esquerda entre 2007 e 2009, foi condenado a 13 anos de prisão, em 2016, juntamente com outros membros da organização, que também foram libertados nos últimos dias.

Segundo a agência AFP, Budaházi foi amnistiado na noite de quinta-feira e saiu da cadeia na noite de sexta-feira, montado a cavalo — um símbolo de orgulho na história do país para os militantes ultranacionalistas húngaros.

Críticas da oposição

A amnistia concedida a Budaházi por Novák — uma antiga deputada do partido de Viktor Orbán, o Fidesz, e eleita em 2022 para a Presidência da Hungria — foi condenada pela liderança da Coligação Democrática, partido de centro-esquerda que nasceu de uma cisão no Partido Socialista Húngaro, em 2011.

O porta-voz da Coligação Democrática, Balazs Barkoczi, disse ao jornal de língua inglesa Budapest Times que Budaházi e os restantes membros do grupo paramilitar de extrema-direita "vão ser mandados de volta para a prisão quando Orbán for substituído".

Barkoczi, que se referiu à Presidente húngara como "um soldado do Fidesz", disse que a amnistia foi decretada a mando do primeiro-ministro.

"Viktor Orbán pôs em liberdade terroristas de extrema-direita, que dispararam tiros e lançaram cocktails molotov contra residências de políticos de esquerda e espaços de entretenimento, e que espancaram pessoas na rua", acusou o porta-voz do partido da oposição.

Terrorismo

Em 2016, no final de um julgamento que durou cinco anos, Budaházi foi condenado a 13 anos de prisão por crimes de terrorismo — incluindo o espancamento de um antigo político socialista e vários ataques contra as residências de ministros do então Governo do PS húngaro.

As acções violentas do grupo de Budaházi ganharam visibilidade após a revelação, em 2006, de que o então primeiro-ministro, o socialista Ferenc Gyurcsany, tinha mentido e ocultado o programa de austeridade que pretendia aplicar depois das eleições legislativas desse ano, com o objectivo de ganhar o escrutínio.

Apesar dos protestos na Hungria a favor da demissão de Gyurcsany, o primeiro-ministro húngaro só se demitiria em 2009. Um ano depois, o Fidesz venceu as eleições com maioria absoluta e Orbán tem sido reeleito desde então.

Papa contra isolamento

Neste domingo, no último dia da visita papal à Hungria, Francisco apelou aos húngaros que não fechem as portas aos imigrantes, numa declaração entendida como uma crítica às políticas anti-imigração do Governo de Orbán, que mandou construir um muro na fronteira para impedir a entrada de migrantes a partir da Sérvia.

Na presença do primeiro-ministro húngaro, o Papa celebrou uma missa perante as mais de 50 mil pessoas que se juntaram na praça junto ao Parlamento húngaro, em Budapeste.

Segundo o relato da agência Reuters, Francisco disse que, se os húngaros quiserem ser discípulos de Jesus, "terão de se afastar das portas fechadas do individualismo e de uma sociedade de crescente isolamento".

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