Abusos sexuais na Igreja: institutos religiosos já receberam listas de abusadores
Comissão independente coordenada por Pedro Strecht vai ainda ser ouvida no Parlamento no dia 2 de Maio.
O coordenador da comissão que estudou os abusos sexuais de crianças na Igreja, o pedopsiquiatra Pedro Strecht, destacou esta quinta-feira, após ter entregado a lista de alegados abusadores em congregações e institutos religiosos, a "enorme disponibilidade" destas instituições para "construir o futuro de uma maneira diferente".
"[Senti] uma enorme disponibilidade para, perante erros do passado, construir o futuro de uma maneira diferente", afirmou aos jornalistas, em Fátima, onde esteve na assembleia geral da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP) que termina amanhã. Na iniciativa esteve também o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa e bispo de Leiria-Fátima, José Ornelas.
Questionado sobre o número de pessoas visadas pelas suspeitas, que a crer no relatório se aproxima da uma centena, Pedro Strecht remeteu esclarecimentos para os responsáveis dos institutos e congregações. "Depois perceberão pelos institutos. Cada um fará a sua comunicação, como é óbvio. Não quero estar a interferir nessa parte", adiantou, destacando que a comissão foi também falar, a propósito de abusos sexuais, de "prevenção e de formas de actuação, tanto agora, no presente, em relação àqueles que foram vítimas no passado, mas, sobretudo, numa melhor construção do futuro".
Sobre o Grupo VITA - Grupo de acompanhamento das situações de abuso sexual de crianças e adultos vulneráveis no contexto da Igreja Católica em Portugal, apresentado na quarta-feira, Pedro Strecht realçou "a importância de ter sido constituído" e de ter "um tempo de três anos para funcionar". "Todos nós temos a função de acreditar nesse desempenho profissional que se vai seguir e ajudar no que for também necessário", acrescentou.
O pedopsiquiatra apelou ainda para que não se esqueça o tema dos abusos sexuais "na sociedade em geral" e expressou "um agradecimento profundo de toda a anterior comissão independente à comunicação social", considerando que se não fosse o trabalho dos media nunca a comissão teria conseguido chegar junto das pessoas a quem chegou, passando a sua mensagem.
Questionado sobre se com a iniciativa de hoje fica fechado o trabalho da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais Contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, Strecht lembrou que subsistem algumas "questões pendentes", nomeadamente a ida à audição parlamentar na Assembleia da República no próximo dia 2 de Maio.
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais Contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa validou 512 dos 564 testemunhos recebidos, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de vítimas da ordem das 4815, entre 1950 e a actualidade.
Vinte e cinco casos foram reportados ao Ministério Público, que deram origem à abertura de 15 inquéritos, dos quais nove foram já arquivados, permanecendo seis em investigação.
No relatório "Dar Voz ao Silêncio", apresentado pela Comissão Independente no dia 13 de Fevereiro, surgiam indicados, no caso dos institutos religiosos femininos, as Irmãs Reparadoras de Nossa Senhora de Fátima, com oito vítimas, e as Religiosas do Amor de Deus, com três, como os mais afectados. No que respeita aos masculinos, os Salesianos destacavam-se com 18 vítimas, seguidos dos Jesuítas (12) e dos Franciscanos - Ordem dos Frades Menores (11).