Quando os filhos chegam à adolescência, as mães precisam de um refúgio

Agora que vejo as cenas ao longe não percebo como é que os pais aguentam, divididos entre a sensação de injustiça porque nada do que fazem parece chegar, a vontade de se imporem e a empatia.

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Ana,

Decididamente não foi por acaso que quando vocês eram adolescentes me surgiu a ideia de criar um colégio interno para mães!

Um lugar para onde pudessem escapar dos filhos egocêntricos e tirânicos que estão convencidos — todos estão! — que as mães existem exclusivamente para os servir. Que as mães têm de suportar as suas birras, estados de alma, saltos hormonais, acessos de má educação e desarrumação, e as lamúrias e queixumes de quem se sente sempre vítima de tudo e todos.

Agora que vejo as cenas ao longe, do privilégio do sossego de minha casa, não percebo como é que os pais aguentam, divididos entre a sensação de injustiça porque nada do que fazem parece chegar, a vontade de se imporem e a empatia pelos momentos em que o sofrimento dos filhos é mesmo real. A exaustão fica bem à vista e nós avós ficamos com uma vontade imensa de raptar as nossas filhas e noras e trazê-las para casa para que retemperem forças. Ou, em alternativa, oferecer-lhes um trimestre num hotel.

Lembras-te do nosso livro É meia-noite, chove e ela ainda não está em casa?, em que eu era a voz da mãe e tu, com 15 anos, escrevias em nome dos adolescentes que achavam a mãe dispensável, ao ponto de a internarem num orfanato? Ao fim de um mês de ausência estavam tão ansiosos de a recuperar que assinaram alegremente um contrato de trabalho, que lhe garantia um mês de férias e respectivos subsídios.

Com os professores em greve por melhores ordenados e condições de trabalho porque é que as mães não lhes seguem o exemplo? Diz-me que cláusula incluías nesse contrato?


Querida Mãe,

Ah! Ainda no outro dia folheei esse nosso livro e fartei-me de rir, o que nos divertimos a escrevê-lo!

Bem, ainda estou naquela fase boa em que lá em casa ainda estão convencidos que não me vão odiar, mas a sua descrição foi-me muito familiar… Ssimplesmente aplica-se ao seu neto mais novo! Ou seja, ou ele está numa adolescência precoce ou pura e simplesmente os miúdos já eram assim antes da adolescência, mas as bochechas fofinhas, os erros gramaticais hilariantes e a festa ao nosso ego de só nos quererem a nós, leva-nos a desculpá-los até aos 13-14 anos!

Gosto dessa ideia de entrarmos para a adolescência com alguns lembretes. Nós e eles! Pequenos post-its que temos de ir lendo nos momentos mais difíceis.

Aqui ficam os meus:

Para lhes dizer a eles:

  1. Se estou disponível para falar porquê, mas por que é preciso usar esse tom!
  2. Por mais zangadas que estejas se precisares de mim liga que eu deixo os sermões e vou-te ajudar. Sempre.
  3. Passaste 13 anos da tua vida a achar que tudo o que eu fazia era espectacular, dá-me uns momentos para me habituar ao teu desprezo pelo meu estilo e pelas minhas sugestões!
  4. Estamos os dois a fazer o melhor que podemos!
  5. Não sou um multibanco!

Para nós:

  1. Queres que eles se preocupem com o teu mundo? Mostra interesse pelo deles.
  2. Não te esqueças que o “falar mal” é um sintoma de mal-estar e não é pessoal.
  3. Cuidado com as ameaças que não vais querer (ou conseguir) cumprir!
  4. Não mistures assuntos nos teus sermões!
  5. Não cobres os nove meses de enjoo, as noites mal dormidas, e as preocupações etc.. Também não deixes que eles te cobrem o facto de os teres posto no mundo!
  6. Lembras-te quando querias mais tempo para ti e para o teu marido. Now is the time. Aproveita.

O Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. E, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam.

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