Sindicatos: lucros “mostram que a CP deveria ter autonomia para gerir os seus trabalhadores”

Os sindicatos que representam os trabalhadores da CP querem reabrir os processos negociais com a empresa, que, garantem, não tem dado qualquer resposta às reivindicações de aumentos salariais.

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A CP obteve lucros em 2022, pela primeira vez na sua história Nelson Garrido

Em greve desde o início deste mês, os trabalhadores da CP – Comboios de Portugal continuam sem perspectivas de ver as suas reivindicações atendidas, numa altura em que o processo negocial permanece parado. Mas os lucros alcançados pela empresa em 2022, os primeiros da sua história, mostram que a transportadora "deveria ter autonomia para gerir os seus trabalhadores, sem ser manietada pelo Governo", defendem os sindicatos representativos do sector.

Os resultados da CP, avançados pelo PÚBLICO nesta quarta-feira, foram alcançados num ano em que a empresa registou 148 milhões de passageiros, o maior número registado nos últimos 20 anos. Ao mesmo tempo, foi aplicado o Contrato de Serviço Público assinado entre a empresa e o Estado, que a compensa pela prestação de serviços que dão prejuízo. Foi nesse cenário que, em 2022, a CP alcançou lucros de oito milhões de euros, naquele que é o primeiro resultado líquido positivo da sua história.

As contas são conhecidas numa altura em que a CP enfrenta uma greve que se prolonga durante todo o mês de Abril, convocada por uma plataforma de sindicatos, que reivindica "aumentos salariais efectivos", a "valorização da carreira da tracção" e a "humanização das escalas de serviço", bem como a "redução dos repousos fora da sede" e um "efectivo protocolo de acompanhamento psicológico aos maquinistas em caso de colhida de pessoas", entre outras exigências.

Até agora, contudo, a administração da empresa não tem dado qualquer resposta às reivindicações e não há, sequer, negociações a decorrer. "Não há, neste momento, qualquer data para se retomar as negociações", resume José Manuel Oliveira, coordenador da Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações (Fectrans), em declarações ao PÚBLICO.

Também Luís Bravo, presidente do Sindicato Ferroviário da Revisão Comercial Itinerante (SFRCI), refere que "as negociações estão a ser dificultadas pela administração da CP, que não está a reconhecer o esforço dos trabalhadores". E reforça: "Estamos a falar de melhores condições de trabalho, e a empresa tem vindo a dificultar. Estamos a ficar preocupados, a empresa não dá resposta."

Mas, acrescenta o coordenador da Fectrans, os resultados da CP revelam a capacidade da empresa para dar resposta às exigências dos trabalhadores. "A notícia de hoje só demonstra que a CP deveria ter autonomia para fazer a gestão dos seus trabalhadores. Estes resultados foram alcançados num ano de desvalorização dos salários, com menos trabalhadores do que o necessário, com dificuldade em recrutar novos trabalhadores porque os salários são baixos, com uma frota envelhecida e sem se vislumbrar quando começará a ser renovada. Isto só demonstra que há condições para a CP fazer a sua gestão sem ser manietada pelo Governo."

Para o dia 8 de Maio, está marcada uma reunião entre o Ministério das Infra-Estruturas e um conjunto de organizações sindicais e comissões de trabalhadores das empresas públicas de transportes. A expectativa é que, tendo em conta a decisão do Governo de aprovar um aumento intercalar de 1% para os trabalhadores da administração pública, sejam reabertos os processos negociais com a administração da CP, para que também os trabalhadores das empresas públicas do sector empresarial do Estado possam de aumentos salariais.

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