Quando o corredor termina e se entra na exposição “Na Senda dos Leques Orientais”, no Museu do Oriente, em Lisboa, há um aroma de madeira de sândalo que nos faz viajar até à corte do imperador, reunida no Palácio Proibido, em Pequim. O leque é um objecto utilitário, mas também um símbolo de poder e de estatuto.
Ao todo, a exposição reúne 180 peças – dos leques a esculturas, passando por documentos gráficos, pintura, escultura, porcelana e fotografia – que fazem parte do acervo de duas dezenas de museus, fundações e instituições nacionais, bem como de coleccionadores privados.
A exposição, patente até 10 de Setembro, conta não só a história do objecto em si, com milhares de anos, um objecto útil que servia para controlar o fogo, mas que ao longo dos séculos foi ganhando outras funções e simbolismo. Basta ver as imagens pintadas nas porcelanas chinesas e as pinturas que remetem para a corte imperial, mas também os quadros a óleo ou as reproduções de imagens que revelam rainhas, como a britânica Vitória (1819-1901) ou a portuguesa Estefânia (1837-1859), a pinturas que mostram damas da corte ou senhoras da sociedade, como Maria Amélia de Medeiros e Almeida, todas com os seus leques.
Este objecto tornou-se de luxo nas sociedades ocidentais devido à sua beleza e exotismo, aos materiais com que era feito – madeira, madrepérola, tartaruga, marfim, entre outros –, e ao trabalho delicado como a filigrana. O leque passa a fazer parte da toilette feminina, mas também da maneira como as mulheres comunicam com os seus pretendentes, recorda ao PÚBLICO Joana Fonseca, coordenadora executiva desta mostra, que assinala também os 35 anos da Fundação Oriente, em Março, e os 15 anos do Museu do Oriente, que se celebram em Maio, acrescenta.
O comissário Paulo de Assunção, bolseiro da fundação durante um ano, organizou a exposição em dez núcleos, e juntou dezenas de leques, não só chineses, mas também japoneses e coreanos, de diferentes modelos e estilos decorativos, revelando a importância que este objecto teve nas relações comerciais entre a China e a Europa, liderado por Macau e Cantão nos séculos XVIII e XIX. É a partir do século XVIII que a Europa, nomeadamente o Reino Unido, começa a produzir este objecto, mantendo a decoração ao estilo oriental.