Um cântico de saudação à vida
Um livro desdobrável que recupera o agradecimento indígena aos seres vivos e que era recitado colectivamente onde é hoje parte dos Estados Unidos e o Canadá.
Os iroqueses, tribo da América do Norte, recitavam pela manhã, há séculos, estes textos agora traduzidos para português. São como que um cântico a agradecer à natureza o contributo para o bem-estar dos humanos.
A saudação aos seres vivos faz-se por esta ordem: o povo, a Mãe Terra, as águas, os peixes, as plantas, as plantas comestíveis, as ervas medicinais, os animais, as árvores, os pássaros, os quatro ventos, os trovejantes, o Sol, a avó Lua, as estrelas, os membros iluminados, o Criador e, por último, palavras finais.
Há uma frase que se repete no fim de cada texto/agradecimento e que convoca à comunhão de todos os seres com o universo: “Agora as nossas mentes são uma só.”
Agradecimento ao povo: “Hoje reunimo-nos e vemos que os ciclos de vida continuam. Foi-nos atribuído o dever de viver em equilíbrio e harmonia uns com os outros e com todos os seres vivos. Por isso, agora unimos as nossas mentes enquanto nos saudamos e agradecemos. Damos graças pela nossa família, amigos e amigas, e por todos os seres humanos. Agora as nossas mentes são uma só.”
Um “mural” com mais de três metros
À medida que se vai desdobrando o livro, com ilustrações à esquerda e enunciados à direita, vai-se formando aquilo a que a editora chama o “grande mural da Criação”. São pouco mais de três metros com ilustrações garridas, cheias de pormenores e que resultaram da investigação da ilustradora, Vanina Starkoff, sobre as características culturais e do território dos Haudenosaunee (iroqueses).
Ali, podem ver-se as plantas, os animais, as paisagens, mas também os homens, mulheres e crianças, as suas vestes e símbolos, o seu quotidiano. O céu e as constelações são representados lá mais para o fim do mural, que vamos desenrolando hipnotizados com tanta cor e vida.
Natural de Buenos Aires (Argentina), Vanina Starkoff licenciou-se em Design Gráfico, mas logo descobriu a arte de ilustrar livros para crianças. “Desde esse momento, fiquei submersa nesse maravilhoso mundo e apaixonada pelos países e cores que sempre pintei… e fui atrás do meu grande amor, o meu amado Brasil, onde vivo desde o ano de 2014”, descreve no site da Akiara Books.
A tradução bem cuidada de Obrigado, Mãe Terra! tem a assinatura de Catarina Sacramento e foi vertida para português a partir do texto Thanskgiving Address: Greetings of the Natural World, estabelecido em 1993 pelo Six Nations Indian Museum a partir da versão original mohawk. Actualmente tradutora e revisora, Catarina Sacramento estudou Ciências da Comunicação, escreveu sobre música no jornal Blitz e sobre comida na revista Time Out Lisboa.
Palavras finais: “Agora chegámos ao lugar onde terminam as nossas palavras. De todas as coisas que nomeámos, não era nossa intenção deixar nada de fora. Se nos esquecemos de algo, que cada pessoa expresse essa saudação e esse agradecimento à sua maneira. Agora as nossas mentes são uma só.” Seja.