Sindicatos médicos querem que ministério “passe das palavras aos actos”. Fnam não descarta nova greve

Federação Nacional dos Médicos (Fnam) admite novas formas de luta se não existem acções concretas. Próximas reuniões estão marcadas para meados de Abril.

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Calendário negocial entre sindicatos médicos e Ministério da Saúde termina em Junho Manuel Roberto

O Ministério da Saúde voltou a reunir-se com os sindicatos médicos, em separado, para mais uma ronda negocial. Foram dados pequenos avanços, com a abordagem do tema da dedicação plena e do assumir da intenção de revisão da grelha salarial, mas ainda sem propostas concretas. São passos positivos, mas que não chegam para que médicos e Ministério da Saúde estejam mais perto do acordo. Sindicato Independente dos Médicos (SIM) afirma que é preciso o ministério passar das palavras aos actos e a Federação Nacional dos Médicos (Fnam) admite novas formas de luta se não existem acções concretas.

A reunião com a Fnam realizou-se esta sexta-feira e contou com a presença do ministro da Saúde. “Conseguimos falar abertamente da necessidade de rever as grelhas salariais e da necessidade de um novo modelo de dedicação. O ministério fala em dedicação plena, nós em dedicação exclusiva. Ir buscar o modelo que havia antigamente, mas melhorado. Há esta abertura por parte do ministro para discutir e levar isto a bom porto, que é o que a Fnam quer”, disse a presidente Joana Bordalo e Sá.

Relativamente a este tema, explica que ainda não foi apresentado nenhum documento – ficou o compromisso de ser enviado até à próxima reunião que está marcada para 24 de Abril -, mas foram apresentadas linhas gerais que passam pela existência de incentivos e compensações remuneratórias associados a indicadores de desempenho. “Aquilo que a Fnam entende é que tem de haver um aumento salarial, não é só deste novo regime de dedicação. O salário base é que tem de ser aumentado."

Mas em relação à grelha salarial, “são só palavras”. “Dizem claramente que há um interesse em olhar para as grelhas salariais, mas ainda não veio nenhum documento e não se falou em números”, disse Joana Bordalo e Sá, lamentando que o ministério não tenha comentado a proposta que apresentaram no início do processo negocial. Ainda em relação à dedicação plena, referiu que ficou clarificado por parte do Ministério da Saúde que os médicos que não estejam a dedicação plena também poderiam assumir cargos de chefia.

“Foi-nos manifestada uma vontade em alargar as unidades de saúde familiar e também de haver um incentivo às vagas de especialidade carenciadas. Mas para já foram só palavras, ainda não temos nada concreto”, acrescentou. O tema das equipas dedicadas no serviço de urgência também foi abordado e neste campo, a presidente da Fnam disse que para o sindicato tem de ser claro que quem trabalha nestas equipas tem de ter “direitos laborais iguais” aos restantes médicos em termos de número de horas diárias de trabalho e a penosidade “deve ser devidamente compensada em termos remuneratórios e de férias”. E o mesmo para as equipas dedicadas aos cuidados intensivos e intermédios.

“A parte menos boa, é que ficámos outra vez só pelas palavras. Acabámos a reunião com saco cheio de boas intenções, mas ainda não temos nada de concreto. Se na próxima reunião não houver nada de concreto, vamos ter de continuar a nossa luta. Vamos apelar aos médicos que coloquem a minuta para a indisponibilidade de fazer mais horário suplementar para além das 150 horas anuais, que é o limite legal. Também não colocamos de parte ter de fazer uma nova greve. Tudo isto está em cima da mesa se continuarmos sem nada”, afirmou Joana Bordalo e Sá.

"Negociações continua a ser lentas"

Numa nota divulgada no seu site, onde dá conta da reunião se que realizou na quinta-feira, igualmente com a presença do ministro Manuel Pizarro, o SIM reconhece “alguns progressos” no processo negocial, mas “exige (também) que o Governo passe das palavras aos actos”. “Do nosso ponto de vista, as negociações continuam a ser lentas e morosas, dados os problemas que existem nas urgências, de utentes sem médico, as listas de espera intermináveis, que obrigariam a que o Governo entendesse isto não como uma situação de urgência, mas de emergência. Infelizmente, isso não aconteceu”, disse o secretário-geral do SIM.

“Estamos a fazer tudo para chegar a um acordo. Estamos muito longe disso, mas a verdade é que têm sido dados alguns passos pequeninos no sentido de lá chegarmos”, acrescentou Jorge Roque da Cunha, referindo que nesta reunião foram apresentadas linhas gerais da dedicação plena e se começou a falar da grelha salarial, mas ainda sem apresentação de números.

No caso da dedicação plena, o secretário-geral do SIM referiu que foi assumido pelo ministério que este regime seria “alargado a todos os médicos que assim o entendessem” e que estará “associado a um conjunto de objectivos contratualizados, que passem por aumentar a acessibilidade dos doentes aos cuidados de saúde” e “alargada no tempo, com critérios de cessação” em vez de um acordo válido por três anos.

Na reunião, o ministério deixou a intenção de haver uma “generalização das unidade de saúde familiar modelo B e o compromisso de este ano abrirem a possibilidade a pelo menos mais 30” unidades destas. Foram também feitos “alguns avanços” de o tempo específico para os médicos darem ao internato e para a investigação “passarem a estar concretizados” nos contratos.

Outo aspecto “assumido” foi o da recuperação da contagem de pontos desde 2018 na avaliação de desempenho e o alinhamento entre os contratos em função pública e os contratos individuais de trabalho “na questão das férias, do acompanhamento dos filhos e no número de dias disponíveis para a formação”.

Falou-se também da necessidade de se regularem as equipas dedicadas ao serviço de urgência” e que terem “um incentivo em termos de dias de férias e de remuneração. “Tudo isto são acordos de princípio”, disse Roque da Cunha. “Sentimos que há neste momento há alguma concretização, mas muito longe do que seria necessário e espectável dada a gravidade da situação”, apontou. A próxima reunião será realizada dentro de 15 dias.

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