Álex Roca, o primeiro atleta com mais de 70% de incapacidade a fazer uma maratona
Atleta com 76% de incapacidade foi o primeiro a correr os 42,195 quilómetros.
Álex Roca Campillo, atleta espanhol de 31 anos com paralisia cerebral, arrebatou o mundo com a proeza conseguida neste fim-de-semana, ao tornar-se o primeiro desportista no planeta com 76% de incapacidade – com o lado esquerdo do corpo imobilizado – a concluir uma maratona.
Álex Roca Campillo cortou a meta na prova de Barcelona após 5h50m51s de luta, superação e coragem para além de quaisquer limites que possamos imaginar, momento celebrado com emoção indescritível, num cenário de euforia colectiva só inspirado pelos verdadeiros campeões.
Uma vitória retumbante sobre a paralisia cerebral provocada por uma encefalite viral herpética quando tinha apenas seis meses de vida. Na biografia, Álex Roca conta que os médicos lhe deram uma esperança de vida há muito superada e que ainda hoje ficam estupefactos por ele estar vivo.
Mas, mais do que estar vivo, Álex Roca orgulha-se de ter superado incontáveis barreiras, que venceu à custa de muito esforço, entre as quais o facto de ter estudado, de ter uma profissão, de ter autonomia em matéria de transportes e de ter uma companheira. No fundo, de ter construído uma vida normal.
Esgotado, comovido mas, sobretudo, radiante, Álex Roca Campillo publicou o vídeo do momento em que cortou a meta, animado por inúmeros apoiantes anónimos. As imagens são “legendadas” com uma mensagem fortíssima.
“O limite és tu que o impões e, se quiseres cumprir um objectivo, tenhas as dificuldades que tiveres, com atitude, força de vontade, consistência e resiliência, podes conseguir tudo a que te proponhas. E se não o conseguires, terás dado tudo e deverás sentir-te recompensado”, escreveu nas redes sociais, numa lição simples, mas inestimável a um mundo que precisa de rever urgentemente alguns valores.
Submetido a diversas cirurgias aos tendões do pé, Álex Roca Campillo já correu duas meias maratonas este ano. Antes, teve participações em provas como Titan Desert 2018 ou a Pilgrim Race 2018, tendo em 2019 sido o primeiro atleta com uma incapacidade do género a terminar o Titan Desert. Mas o grande objectivo passava por cumprir os 42,195 quilómetros da Zurich Maratón de Barcelona.
Tal como na antiga lenda grega, em que o soldado ateniense Fidípides – que, segundo Heródoto, foi enviado a Esparta em 490 a.C. para pedir auxílio antes da batalha de Maratona – teria corrido 42km para anunciar a vitória ateniense contra os persas e morreu de exaustão após cumprir a missão, Álex Roca também tinha uma mensagem para transmitir à humanidade.
"Todas as pessoas com um objectivo podem consegui-lo com sacrifício, atitude e trabalho em equipa. Decidi correr a Maratona de Barcelona para que as pessoas que sintam medo ou que não se julguem capazes de alcançar esse objectivo me vejam cruzar a meta de uma maratona e digam a si mesmas: 'Eu também posso'", declarou em língua gestual.
Para conseguir este feito, o atleta contou com uma equipa especial, que incluía uma psicóloga e um nutricionista (que concebeu uma dieta para o ajudar a conseguir o que até agora parecia impossível). Valentí San Juan, atleta de ultradistância e comunicador, também acompanhou Álex Roca nesta aventura.