Ciclovias que vão ligar Porto a Matosinhos e Gondomar só estão prontas em 2025

Instalação de canal com financiamento do Fundo Ambiental tinha conclusão prevista para 2023. Câmara do Porto só pediu à Metro que garantisse uma parte da ciclovia na Avenida da Boavista.

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Troço junto ao mercado do Bom Sucesso foi dos primeiros instalados durante a pandemia, mas muito do planeado ainda não chegou ao terreno. Paulo Pimenta

A ligação entre os concelhos de Matosinhos e Gondomar ao Porto através de ciclovias esteve apontada para 2023, mas só deve avançar em 2025. A informação é avançada pelo vereador da Câmara Municipal do Porto (CMP) com o pelouro do urbanismo, Pedro Baganha, em resposta ao Bloco de Esquerda (BE), que, em Fevereiro, questionou o executivo sobre vários investimentos em mobilidade ciclável na cidade.

A instalação da ciclovia entre Trindade, no Porto, e São Mamede de Infesta, em Matosinhos, deve começar em Janeiro de 2024 e estar concluída um ano depois. Já a ligação entre Asprela, também no Porto, e Rio Tinto, em Gondomar, tem início previsto para Abril de 2024 e deverá terminar em Maio de 2025.

Sobre a alteração de calendário destas intervenções que contam com o financiamento do Fundo Ambiental e foram anunciadas em 2021, o vereador justifica ao Bloco que “foi necessário constituir agrupamentos de entidades adjudicantes com os municípios de Matosinhos e Gondomar”. Baganha acrescenta também que os “licenciamentos e as aprovações de fases de projecto” tiveram que “tramitar separadamente em cada município”, o que levou à derrapagem de prazos. Era suposto que as empreitadas terminassem em Novembro de 2023.

Em 2021, o projecto foi apresentado como um passo para uma “mobilidade urbana mais verde”, mas Câmara Municipal do Porto não explica como vai incentivar a substituição do automóvel pela bicicleta se, chegando à cidade, quem pedala não vai encontrar uma rede de canais para circular. Há vários troços de ciclovias na cidade, mas muitos não têm continuidade nem estão ligados entre si. Contactada pelo PÚBLICO, a autarquia não tem nada a acrescentar.

Ciclovia na Boavista deve cair

Em Maio de 2020, no plano que apresentou para “resgatar o espaço público” após o primeiro confinamento pandémico, a CMP previa, entre outras medidas, instalar uma ciclovia que ligasse as pontas da Avenida da Boavista. Agora, parece dar um passo atrás, mesmo que esteja a decorrer a empreitada de instalação do metrobus, que vai redistribuir o espaço de circulação daquela via para as próximas décadas.

A CMP responde ao BE que pediu à Metro do Porto, que está a fazer as obras na avenida, que “previsse a manutenção de ciclovia existente” entre a Rua Pinho de Leal e a Praça Gonçalves Zarco. Ou seja, o troço que acompanha a extensão do Parque da Cidade e pouco mais. A restante avenida até à rotunda da Boavista não é mencionada.

Num comunicado enviado ao PÚBLICO, o BE conclui que parece “não haver intenção em implementar uma ciclovia ao longo de todo o percurso da Avenida da Boavista”. Sobre o plano municipal apresentado em Maio de 2020, de criar mais 35 quilómetros de percursos cicláveis na cidade, o Bloco lamenta que não seja dada “qualquer explicação” para a sua não concretização.

Sobre a reformulação das Avenidas Atlânticas - sobre a qual houve uma auscultação pública - ainda não há desenvolvimentos. O vereador não antecipa, neste momento, “a necessidade de lançamento de um concurso público” para implementar a “solução final”, sendo que “o prazo de intervenção ainda não está fechado”.

“Década perdida”

À questão sobre a elaboração de um plano municipal para a mobilidade em bicicleta na cidade do Porto, Baganha remete para a “rede estruturante ciclável” que está “plasmada no Plano Director Municipal (PDM) aprovado em 2021”. Ora, nesse PDM, a ligação entre as pontas da Avenida da Boavista não está prevista na “rede estruturante”.

Perante estas respostas, o Bloco de Esquerda vai insistir numa proposta que já fez aos órgãos autárquicos, em Janeiro de 2020: que a cidade prepare um Plano para a Mobilidade em Bicicleta no Porto. Haverá ajustes à proposta que foi chumbada há três anos – como a articulação com rede de transportes públicos, que, entretanto, evoluiu – mas o Bloco mantém o essencial.

Num município em que o carro continua a ser rei das viagens entre casa e trabalho ou escola (53,5%), o BE continua a defender que a utilização da bicicleta deve atingir 4% até 2025. Actualmente, a bicicleta representa 0,8% das deslocações pendulares no Porto.

Quando Rui Moreira foi eleito presidente da CMP, em 2013, o Porto tinha 29 quilómetros de ciclovias. Dez anos depois, tem 35 quilómetros. O Bloco considera que esta é uma “década perdida” para a mobilidade suave na cidade, sem que haja registo de “quaisquer avanços significativos nesta matéria”.

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