Câmara do Porto prometeu mais 35 quilómetros de ciclovia. Bloco quer saber onde estão
Em 2020, a autarquia anunciou um aumento da rede ciclável da cidade. Quase três anos depois, Bloco questiona Rui Moreira sobre planos não concretizados.
Em Maio de 2020, quando o país reabria após o primeiro confinamento pandémico, a Câmara Municipal do Porto (CMP) anunciava um plano para “resgatar o espaço público” que incluía a criação de mais 35 quilómetros de ciclovias na cidade. Não aconteceu e o Bloco de Esquerda (BE), que tem um assento na vereação, quer saber porquê.
“Decorridos mais de dois anos desde o prazo indicado (Dezembro de 2020), a grande maioria destes percursos continua por concretizar ou parece não ter sido iniciada, conforme informação do próprio portal do município”, regista o vereador do BE, Sérgio Aires, introduzindo uma série de perguntas que remeteu ao presidente da CMP, Rui Moreira, nesta quarta-feira.
Quando a intenção de acrescentar 35 quilómetros à rede existente foi anunciada, a vereadora com o pelouro dos transportes, Cristina Pimentel, considerava a medida “urgente”, explicando que seria implementada “com grande rapidez até ao fim do ano”. Em resposta ao PÚBLICO, a CMP refere agora que houve “um acréscimo significativo” de quilómetros de ciclovia “entre 2020 e 2021”.
O BE queria saber "qual o ponto de situação de cada um dos novos troços então anunciados e o grau de execução" até à data presente. Os novos troços incluíam ligações entre pontas soltas das linhas de ciclovia já existentes.
Também as ligações a uma futura rede intermunicipal de ciclovias entre Porto (Trindade) e São Mamede de Infesta (Matosinhos) e entre Porto (Asprela) e Rio Tinto, (Gondomar) são alvo das questões do BE. A operação seria financiada pelo Fundo Ambiental e teria conclusão apontada para Dezembro de 2021, “o que não veio a ocorrer”, aponta o partido. A CMP refere apenas que as duas ligações estão “em fase de desenvolvimento do projecto de execução”.
E a Avenida da Boavista?
Há também interrogações sobre a intervenção nas Avenidas Atlânticas, que prevê alterações na respectiva ciclovia. O relatório final da auscultação pública foi concluído há seis meses, sendo que autarquia referia à agência Lusa, em Outubro de 2022, que iria promover a discussão da solução com os partidos e que lançaria o concurso público para o projecto até ao final desse ano.
Isso também não aconteceu, refere o BE, que menciona ainda o projecto do metrobus da Avenida da Boavista, que, para já, não prevê a implementação de uma ciclovia ao longo do seu trajecto. No lançamento da empreitada, a Metro do Porto referiu que estava a avaliar, em conjunto com a autarquia, a possibilidade de inserir um canal ciclável. Sobre este processo, não há novidades. “A implementação de uma ciclovia na Avenida da Boavista continua ainda em avaliação. Como tal, a solução a adoptar deverá assegurar condições de melhor mobilidade entre os diversos modos de transporte”, responde a câmara.
“O sucessivo adiamento da concretização destes projectos – essenciais para promover uma política de mobilidade mais sustentável na cidade do Porto – tem sido motivo de preocupação, não só para o Bloco de Esquerda, mas também para várias organizações e munícipes", nota Sérgio Aires.
De acordo com dados do Plano Municipal de Saúde do Porto, a cidade tinha 29 quilómetros de rede ciclável em 2013, quando Rui Moreira chegou à presidência da câmara. Pouco mais de nove anos volvidos, apenas foram acrescentados seis quilómetros.
Ainda assim, desde 2011, a utilização de bicicleta no Porto subiu 235%, mostram os Censos 2021. É uma subida expressiva, mas muito longe da que se registou em Lisboa, onde as políticas públicas da última década levaram à construção da maior rede de ciclovias do país e ao investimento em sistemas de bicicletas partilhadas. Na capital, houve um aumento de 539% nas viagens a pedalar entre casa e trabalho.
No Porto, uma cidade que quer atingir a neutralidade carbónica até 2030, as viagens de bicicleta têm um peso de 0,8% nas deslocações pendulares. O principal modo de transporte continua a ser o automóvel privado (53,5%), cuja utilização cresceu na última década.