Matosinhos quer eléctrico na reconversão das avenidas da Foz. Porto diz que não vai acontecer
O actual PDM portuense prevê a reposição da linha, mas a autarquia diz que não acontecerá neste mandato. Matosinhos queria aproveitar mais uma requalificação das avenidas do Brasil e de Montevideu para chamar para a cidade cerca de 400 mil turistas.
É uma vontade antiga do município de Matosinhos, mas é uma hipótese que parece estar longe das prioridades do concelho vizinho. A autarquia matosinhense continua a defender a reactivação da linha do eléctrico que até há quase três décadas ligava a Foz ao mercado municipal, junto à Rua de Brito Capelo. Porém, parece estar isolada na defesa dessa intenção, pelo menos num horizonte mais próximo. No plano em marcha para nova reconversão das avenidas de Montevideu e do Brasil, a Câmara do Porto não prevê voltar a instalar carris nas duas avenidas em nenhuma das propostas que avançou. No entanto, o actual Plano Director Municipal (PDM) do Porto prevê essa possibilidade.
O assunto voltou à ordem do dia na última reunião do executivo camarário de Matosinhos desta quarta-feira, quando o vereador comunista José Pedro Rodrigues perguntou à presidente da autarquia, Luísa Salgueiro, se, face aos planos para nova requalificação das avenidas, iria interpelar a câmara do Porto sobre esta matéria. A autarca afirmou já ter defendido a necessidade de uma reposição do eléctrico na marginal de Matosinhos, uma vez que as linhas nunca foram levantadas, ao contrário do que aconteceu na frente atlântica da Foz. Mas, o ideal, considera, seria prolongar o percurso até às Caves de Vinho do Porto, em Vila Nova de Gaia, com partida no Terminal dos Cruzeiros, passando pelas avenidas que voltarão a ser intervencionadas.
Só que, em resposta ao PÚBLICO, a câmara do Porto esclarece que a requalificação das duas avenidas da Foz destina-se “única e exclusivamente à intervenção na ciclovia”, não existindo qualquer projecto em curso para a reposição do eléctrico. Ainda assim, sublinha, o PDM em vigor desde Maio de 2021 prevê a possibilidade de expansão da rede de eléctrico neste eixo atlântico. Contudo, na apresentação pública das propostas para as Avenidas Atlânticas - como lhes passou a chamar recentemente a autarquia – o vereador do Urbanismo, Pedro Baganha, adiantou não ser uma obra para este mandato.
Uma vontade antiga
Em Setembro de 1993, as duas linhas por onde passavam os eléctricos 1 e 19, que ligavam o Porto ao mercado de Matosinhos via Foz, foram desactivadas. Desde há uns anos que Matosinhos reclama a reactivação das mesmas, mas com algumas alterações no percurso - a última paragem passaria a ser no Terminal dos Cruzeiros, já que na Rua Brito Capelo, troço que ligava o veículo até ao mercado, passa agora o metro.
Em 2017, o então vereador da Mobilidade de Matosinhos, José Pedro Rodrigues, agora na oposição, assinalou esta vontade, inaugurando de forma simbólica na rotunda da Anémona a primeira paragem que marcaria o regresso à cidade do eléctrico. O acto não passou do plano das intenções. Cinco anos depois, continua a não existir qualquer projecto. Neste mandato, agora sem pelouro, o vereador comunista continua a defender a reposição das linhas.
Do lado de Matosinhos seria mais fácil, considera Luísa Salgueiro, por ainda se manterem no piso da marginal cerca de 800 metros de carris. Para chegar ao Terminal dos Cruzeiros seria necessário mais 200 metros de linha. Mas só faria sentido prolongar o troço se o Porto se comprometer a repor os carris nas avenidas de Montevideu e do Brasil para fazer a ligação com o Passeio Alegre, onde agora termina a viagem do veículo que sai da Praça do Infante. Com isso Matosinhos poderia passar a ser visitado por alguns dos cerca de 400 mil turistas que viajam naquela linha todos os anos.
Três anos depois desde a última alteração, a Avenida do Brasil e a Avenida de Montevideu voltarão a ser intervencionadas, depois de em 2019 a ciclovia ter saído do passeio para a faixa de rodagem, sobrando menos espaço para o tráfego automóvel. O vereador social-democrata Vladimiro Feliz, entendeu que há portuenses que não ficaram satisfeitos com a escolha e colocou o tema da reconversão das avenidas da frente atlântica na lista das suas prioridades para tornar possível o acordo de governação que assinou com Rui Moreira.
A autarquia elaborou quatro propostas que até 31 de Março estiveram disponíveis para auscultação da população. Em duas delas está previsto manterem-se duas vias em cada um dos sentidos da faixa de rodagem – numa a ciclovia volta para o passeio para não se perder largura para os carros e na outra as bicicletas continuam a circular na estrada em faixa dedicada, mas sacrificando a largura do passeio marítimo. As outras duas propostas contemplam desenhos apenas com uma via em cada um dos sentidos – existindo numa delas uma faixa central apenas nas zonas de mudança de direcção. De acordo com a Lusa, quase mil participações deram entrada na União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde durante o período de auscultação pública.