No luxo Vermelho de Melides, Louboutin quer “passar despercebido”
“Não encontrarão nada semelhante ao Vermelho”. Hotel alentejano do designer é também a estreia em Portugal da gestora de hotéis Marugal, que aqui confirma mais dois hotéis Louboutin.
A anunciada abertura esta Primavera do hotel Vermelho, propriedade do designer de calçado Christian Louboutin, já fez correr rios de tinta pelo mundo fora, marcado por artigos em influentes jornais e revistas internacionais, com exclusivos a abrir o apetite em publicações escolhidas a dedo, como o Financial Times ou a Condé Nast Traveler.
Com casas, atelier e ligações em Portugal há muito, Louboutin entra assim na hotelaria de luxo, começando a receber hóspedes a partir de 31 de Março na propriedade localizada em Melides, no concelho de Grândola. Mas esta não só a estreia deste Vermelho com apenas 13 quartos, em que, tanto estes como todo o hotel, chegam com muitos luxos prometidos e muitas artes, numa mistura que já foi definida como "ecléctica, extravagante e curiosa". É também a estreia em Portugal da gestora hoteleira Marugal: com raízes espanholas, é especializada na gestão de propriedades singulares, entre o hotel boutique e o luxo por Espanha, maioritariamente, mas também com presença na Suíça, Inglaterra ou França.
A entrada em Portugal acontece via a relação especial com o criador de sapatos. "Quando um grande designer como Louboutin bate à porta com um projecto tão ambicioso e belo, é difícil dizer que não", diz Ignacio Mirones, representante da Marugal ao PÚBLICO. Embora seja "um projecto assumidamente pessoal", a Marugal acompanha "desde o primeiro dia" todo o processo de criação do hotel (o projecto já é falado há mais de quatro anos), da arquitectura à construção, passando pela gestão, comercialização e, entre outros, a contratação de pessoal.
Investimento de cerca de dois milhões de euros, e com preços no site que, conforme época e tipologia, poderão ir dos pouco mais de 300 euros (os quartos) a quase dois mil euros por noite (as suítes), o hotel fez um "esforço" para ter uma equipa com trabalhadores da vila e da região, garante o director do hotel, Rodrigo Leal. No total, são cerca de 40 trabalhadores e, especificam, "neste momento, 75% são pessoas de, ou a viver em Melides, ou baseadas nas zonas de Grândola ou Santiago". "O sentimento de pertença", sublinham, "é muito importante" para o conceito e para a gestão do grupo, e, apesar das transversais "dificuldade de recrutamento" na hotelaria (e não só), pretendem oferecer "melhores condições" para "reter o talento que temos em casa": "é parte fundamental no sucesso de um hotel como o nosso".
Por aqui, os hóspedes podem esperar sentir-se como numa "casa privada, uma experiência de como se estivéssemos a entrar na casa de Christian Louboutin", diz Rodrigo Leal. À "sensação de estarmos a entrar num lugar íntimo", marcado também por peças da "colecção privada" do designer, junta-se a "privacidade", o "atendimento personalizado" e a "atenção ao detalhe com que tudo foi pensado": da "escolha das loiças rústicas e coloridas do pequeno-almoço a fazer lembrar tempos antigos, até aos batentes das portas em formato de pés".
Para este seu primeiro hotel, acrescenta, Louboutin rodeou-se de"amigos, artistas e artesãos cujo trabalho admira e que já colaboraram com ele nos seus projectos profissionais e pessoais". Esperem-se obra de artistas como o pintor grego Kostantin Kakanias, do escultor italiano Guiseppe Ducrot, ou do paisagista francês Lotus Benech, entre "peças de de todo o mundo", destacando-se até "os azulejos portugueses". "Não encontrarão nada semelhante ao Vermelho", é a promessa, incluindo-se aqui "o espantoso jardim desenhado por Louis Benech" ou a "não menos impressionante piscina ornamentada pelo escultor Guiseppe Ducrot". Outro detalhe cada vez mais raro e, embora evidente, que merece destaque: o nome do hotel é em português.
A experiência "caseira" do hotel mais aberta (a todos) passará pelo restaurante Xtian, "um conceito de comida tradicional portuguesa, ainda que com uma apresentação distinta", e, sublinham mesmo, além de "produtos frescos e de qualidade", "com porções generosas, fugindo ao estilo de fine dining". Ao chef David Abreu cabe mostrar a sua "criatividade" em procurar "interpretações modernas de uma variedade de pratos tradicionais portugueses, sem fugir à formação e experiência internacional que tem" (com passagens por Macau e hotelaria de luxo portuguesa). Outro ponto de passagem: o bar Vermelho ("vinhos portugueses e os cocktails de assinatura").
A localização em Melides é considerada uma mais-valia, sendo "ainda um local inexplorado, a poucos minutos de uma costa fantástica, com paisagens únicas". "Se é verdade que está cada vez mais popular, ainda é possível passar despercebido e encontrar praias selvagens quase desertas", palavras da Marugal.
Tratando-se de um projecto para o qual se antecipa fama mundial, naturalmente muito graças à fama do seu criador, tem o potencial de também pôr ainda mais Melides e arredores nas bocas do mundo, a par da celebridade crescente da vizinha Comporta. Não adiantando números, o director diz que o hotel já está "a ser muito procurando ainda antes da abertura".
Depois do Vermelho, já estão previstos mais hotéis Louboutin na região. "Serão três no total, todos em redor de Melides", adianta o grupo, (deverá ser um perto da lagoa, já em 2024, outro em zona de pinhal ainda em desenvolvimento), referindo-se que serão todos geridos pela Marugal. Mas, detalhe: "Dada a popularidade e crescimento de Portugal, não ficaríamos surpreendidos se tivéssemos novos projectos noutras zonas no futuro".
Pelo Vermelho, uma coisa é certa. Apesar de, "sendo o seu primeiro hotel", seja "natural que o proprietário acompanhe a obra de perto, até porque grande parte (se não todo) do processo criativo passa por si", o certo é que, comenta Rodrigo Leal, "o foco do hotel não será na figura do Sr. Louboutin". "Não será esse o chamariz, pelo que as vezes que estiver pelo hotel, a sua intenção é passar despercebido", remata-se.