Ministério Público abriu inquérito ao caso dos maus-tratos no lar da Lourinhã
Segundo ex-funcionária, alimentação no lar Delicado Raminho é feita com restos e falta água quente para banhos. ASAE multou ontem lar do mesmo dono por falta de higiene alimentar.
O Ministério Público abriu um inquérito ao caso do lar de idosos da Lourinhã, depois de terem sido noticiados no domingo relatos de maus-tratos, confirmou esta terça-feira a Procuradoria-Geral da República (PGR) ao PÚBLICO.
Na segunda-feira, a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, já tinha anunciado uma inspecção urgente ao lar de idosos Delicado Raminho, na Lourinhã.
Questionada pelos jornalistas sobre as informações divulgadas por anteriores funcionários do lar, de que recebiam aviso prévio das visitas da Segurança Social, Ana Mendes Godinho afirmou que as visitas de fiscalização "nunca são anunciadas, nem devem ser anunciadas, precisamente para detectar situações que sejam sinalizadas".
Ana Mendes Godinho apelou ainda à denúncia à Segurança Social de todos os casos que as pessoas julguem precisar de fiscalização.
Durante a tarde de segunda-feira a Rádio Renascença revelou que dois inspectores da Segurança Social tinham estado nas instalações a averiguar as condições de assistência aos cerca de 60 utentes da instituição.
Uma reportagem da SIC denunciou no domingo à noite maus-tratos a idosos do lar Delicado Raminho. De acordo com uma ex-funcionária, em causa estão o uso das mesmas luvas para vários utentes, a existência de feridas por tratar, alimentação pobre e feita com restos de dias anteriores e falta de água quente para banhos aos utentes.
“A pessoa acamada come tudo passado. O pequeno-almoço são papas feitas com farinha de trigo, adoçante e água. O almoço é feito com o resto do jantar, com a sopa do jantar do dia anterior triturada com pão, com água”, refere um desses relatos. As roupas dos utentes serão lavadas sem detergente, mantendo-se nelas o cheiro a fezes e urina.
Segundo a informação divulgada, o Delicado Raminho é um lar privado, tem licença de funcionamento e pode receber até 78 utentes, tendo neste momento cerca de 60. Cada um paga, em média, 1500 euros por mês. O seu proprietário, Mahomed Hanif Sacoor, possui outros equipamentos congéneres, como o lar Peninsular, no Montijo, também alvo de denúncias de maus tratos, e o Centro Geriátrico M.H.A.S, em Setúbal, onde vivem 74 utentes.
E foi na instituição do Montijo que estiveram esta segunda-feira elementos da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), com o objectivo de fiscalizarem as condições de confecção e armazenamento dos géneros servidos aos utentes. As deficiências de higiene detectadas levaram ao levantamento de contra-ordenações, mas não foram consideradas suficientemente graves para originarem a suspensão do funcionamento da cozinha, como por vezes sucede.