Liberais perdem em Berlim e as consequências podem ser nacionais

Partido do ministro das Finanças, Christian Lindner, quer “seguir mais os seus interesses” na coligação “semáforo”.

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Kai Wegner, o candidado da CDU, e Franziska Giffey, do SPD CLEMENS BILAN/EPA

As eleições em Berlim, que tiveram de ser repetidas por ordem judicial, terão resultados a nível nacional: o Partido Liberal Democrata (FDP), terceiro na coligação com o Partido Social-Democrata do chanceler, Olaf Scholz, e os Verdes, não conseguiu chegar aos 5% necessários para eleger deputados para o parlamento da capital que é também um estado federado.

É a quinta eleição seguida em que os liberais têm um mau resultado depois das legislativas de 2021: não conseguiram eleger deputados no Sarre, em Schleswig-Holstein mantiveram-se no parlamento mas com 6,4% e saíram da coligação no poder no estado, o mesmo na Renânia do Norte-Vestefália (5,9% e deixarem de estar no governo) e ainda na Baixa Saxónia 4,7%, falhando assim a representação parlamentar, enumera a agência alemã DPA.

Os liberais são o partido da coligação que mais desceu nas sondagens: os sociais-democratas também caíram mas não tanto, e descidas de 4 ou 5 pontos percentuais têm mais efeito num partido mais pequeno.

O resultado em Berlim terá “obviamente” consequências no plano nacional, disse o secretário-geral do partido, Bijan Djir-Sarai, ainda na noite eleitoral, à televisão pública ZDF. “O FPD deve ter mais voz do que antes.”

Djir-Sarai apontou mesmo o dedo aos Verdes, que são um “grande desafio”. Os dois partidos, Verdes e FDP tiveram um desentendimento muito público na questão da extensão do funcionamento das centrais na Alemanha, que levou o chanceler a usar um poder de decisão que raramente é utilizado para sair do impasse.

O professor de política da Universidade Livre de Berlim Thorsten Faas apontou, em declarações à ZDF, os liberais como os principais perdedores das eleições, e notou que a sua presença na coligação no Governo nacional é parte do problema. "No fundo, os liberais não sabem responder à pergunta 'porque é bom o FDP estar nesta coligação semáforo?'" (a coligação chama-se assim pelas cores dos partidos, vermelho, amarelo e verde).

Quem governa a cidade?

A CDU conseguiu uma vitória na repetição das eleições devido ao caos eleitoral que aconteceu na capital onde as legislativas coincidiram com as eleições para a cidade e ainda com um referendo. O partido obteve 28,2%, mais dez pontos percentuais do que na eleição agora declarada inválida de 2021, e a mesma diferença em relação aos segundos partidos – SPD e Verdes, ambos com 18,4%.

O candidato do partido conservador, Kai Wegner, a agradecer “o mandato claro para um governo” liderado pela CDU – algo que terá factor local, com descontentamento com o governo da cidade, mas também nacional, com a CDU a ganhar nas sondagens e o SPD a perder.

O problema de formar uma coligação é que em Berlim os partidos são mais distantes, no espectro político, do que a nível nacional, e nenhum parece muito disposto a coligar-se com a CDU, embora o SPD não o tivesse excluído.

A coligação actual, liderada por Franziska Giffey, junto com os Verdes e Die Linke (A Esquerda) poderia repetir-se (A Esquerda teve 12%, menos dois pontos percentuais).

A primeira reacção da candidata dos Verdes, Bettina Jarasch, foi a de continuar a coligação, “sob liderança dos Verdes”, mas entretanto o resultado que parecia igual para os dois partidos foi decidido por apenas 105 votos: 278.978 para o SPD e 278.873 para os Verdes.

Numa análise aos resultados na RBB, estação de televisão pública de Berlim e Brandeburgo, o jornalista Sebastian Schöbel traça um panorama de desalento, notando que os três principais candidatos (CDU, SPD e Verdes) “perderam nos seus respectivos círculos eleitorais”.

Uma sondagem do instituto Infratest Dimap mostra que nem um terço dos eleitores quer uma coligação da CDU com o SPD, e menos ainda uma coligação CDU-Verdes.

Em Berlim, conclui Sebastian Schöbel, as pessoas “parecem não querer nenhum governo”: “uma cidade escolhe o impasse” é o título da análise.

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