Médicos que fizerem internato no interior do país vão ter salário majorado e casa paga
Doentes crónicos vão poder renovar receitas nas farmácias e estas passam a poder distribuir fármacos prescritos nos hospitais para algumas patologias.
O Ministério da Saúde vai avançar com várias medidas para fixar médicos especialistas no interior do país e outras zonas de baixa densidade demográfica. A partir do início de 2024, os jovens médicos que começam a sua formação na especialidade (internato) nestas zonas passarão uma parte desse período não só no hospital de destino mas também num hospital mais diferenciado, designadamente no litoral, anunciou nesta segunda-feira o ministro Manuel Pizarro. Terão ainda salários majorados e casa gratuita, acrescentou o governante num encontro com jornalistas, no Porto.
O programa de formação partilhada já está a ser preparado em conjunto com a Ordem dos Médicos (OM) e permitirá, por exemplo, que um médico comece o internato no Hospital de Santo António, no Porto, e o prossiga no hospital de Bragança. O ministro está convencido de que esta medida “vai resolver o problema” da falta de especialistas “no médio prazo”. “Uma parte destes médicos vai-se fixar, não tenho dúvida nenhuma”, disse, sem adiantar valores sobre a majoração dos salários.
A ideia é levar os jovens médicos para hospitais no interior do país logo no período de formação na especialidade, ainda antes de constituírem família e comprarem casa, na tentativa de os convencer a ficar ali a trabalhar quando terminarem o internato, explicou.
Sobre o alojamento pago, Manuel Pizarro disse que as autarquias e os hospitais de destino vão ser envolvidos de forma a criar condições de habitação “que minorem a despesa excessiva de quem tem de trabalhar em dois sítios diferentes”.
O programa Mais Médicos vai abranger as unidades locais de saúde do Nordeste (que integra o hospital de Bragança), a da Guarda, a de Castelo Branco, a do Norte alentejano (Portalegre), a do Litoral alentejano (Santiago do Cacém), a do Baixo Alentejo (Beja) e o Centro Hospitalar da Cova da Beira (Covilhã).
Sublinhando que a falta de especialistas nas zonas de baixa densidade é “muito preocupante”, Manuel Pizarro especificou que se dará prioridade às especialidades com maiores carências, nomeadamente medicina interna, cirurgia geral, ortopedia, anestesiologia, ginecologia/obstetrícia, pediatria, radiologia e, eventualmente, psiquiatria, pedopsiquiatria e psiquiatria da adolescência.
Estas são medidas para “produzir resultados numa década”, assumiu o governante, enfatizando que, “se não se fizer nada entretanto, estas especialidades vão desaparecer” nestas zonas.
Renovar receituário crónico nas farmácias
Manuel Pizarro adiantou ainda que o sistema de “dispensa de medicamentos em proximidade” nos hospitais e a renovação da prescrição de medicação de doentes crónicos, nas farmácias, está “em fase final de implementação”.
As farmácias vão passar a poder distribuir os medicamentos prescritos nos hospitais (e que são só dispensados nestas unidades) para tratamento de algumas doenças e a fazer a renovação das receitas para doentes crónicos, passadas pelos médicos de família e outros profissionais do Serviço Nacional de Saúde.
Além de ajudar a “descongestionar os centros de saúde”, a medida vai ter um “enorme impacto” nas pessoas, que deixam de ter ir ao médico de família ou ao hospital pedir uma nova receita dos medicamentos que tomam habitualmente. “Todos os meses, mais de 150 mil doentes crónicos deslocam-se aos hospitais para obterem uma receita junto do seu médico.”
Estudo sobre rede hospitalar
O Ministério da Saúde vai encomendar a “uma instituição credível” um estudo sobre rede hospitalar que se pretende para 2030, que deverá está pronto ainda este ano e que permitirá “dar coerência” às decisões, revelou também Manuel Pizarro. “É absolutamente claro que precisamos de actualizar a rede hospitalar. Há muitas decisões que foram tomadas de forma casuística” e hospitais que estão subdimensionados para a população que servem, como o de Penafiel, o de Almada e o de Amadora-Sintra, exemplificou.
Questionado sobre se o estudo poderá implicar fechos, assegurou que está mais concentrado “na requalificação e nas aberturas de novos espaços do que nos encerramentos”. Entretanto, lembrou, “vai avançar o hospital de Lisboa oriental e está em construção o novo Hospital Central do Alentejo”. “Vai ainda avançar o novo hospital do Algarve e o novo hospital do Oeste.”