A estranha existência de Bilal Ould-Chick
Mais de cinco anos depois de ser despedido pelo Benfica, que alegou uma justa causa não confirmada, Bilal ainda é um jovem. E marcou um golo na Liga neerlandesa, algo que é notícia por si só.
Bilal Ould-Chick marcou um golo. Aqui está uma notícia, daquelas bem raras, que podemos dar neste domingo, depois de este ainda jovem atacante ter ajudado o Volendam a sair do último lugar da Liga neerlandesa – triunfo por 3-0 frente ao Cambuur, que é quem tem agora a “custódia” da “lanterna vermelha”.
Os mais atentos ao dia-a-dia do Benfica sabem de quem falamos. Os que não seguem de forma não tão detalhada o clube “encarnado” – mas que têm conhecimento global do futebol português – estarão neste momento num processo mental que lhes diga onde ouviram este nome. Porque muitos terão ouvido, certamente.
Apesar deste momento, tem sido estranha a existência futebolística de Bilal. Em 2014, foi um dos craques da equipa neerlandesa que perdeu a final do Europeu sub-17. Em 2015, era o criativo que jogava ao lado de Frenkie de Jong no Europeu sub-19. E o Benfica deitou-lhe a mão.
Acabado de fazer 18 anos, assinou por cinco temporadas com o clube português, mas nunca jogou um único minuto pela equipa principal. E mesmo pela equipa B a amostra é curta – 13 jogos (apenas um como titular), zero golos e o máximo que conseguiu num jogo foi actuar 59 minutos. Se o conceito de flop tivesse um nome, Bilal seria um bom candidato.
Bilal é o homem que obrigou o Benfica a entregar-lhe 1,55 milhões de euros para que ele não apareça mais nas redondezas do Benfica Campus. O litígio entre o jogador e o clube chegou à FIFA e teve mesmo de ter o dedo do Tribunal Arbitral do Desporto. Mas já lá vamos.
Antes disso, é importante explicar por que motivo falamos de Bilal. É que ele não foi apenas um marcador de golo neste domingo, já que conseguiu mesmo abrir o caminho ao triunfo do Volendam e ganhou, pelo menos durante umas horas, o direito a ser falado por mais do que bizarrias e desvarios.
Foi decisivo e fê-lo com um grande golo de pé esquerdo, num remate de primeira na zona da marca de penálti – um daqueles que há muitos anos prometia saber fazer com o pé canhoto.
Indisciplina alegada pelo Benfica
Mas este jogador de ascendência marroquina não foi o primeiro nem seria o último a não cumprir as expectativas. Em última instância, o Benfica poderia abrir-lhe a porta e ele sairia. Amigos como dantes. Mas não foi bem assim.
O clube “encarnado” abriu-lhe a porta, mas fê-lo sob a forma de despedimento unilateral, alegando justa causa. Bilal discordou – tal como a FIFA, num primeiro momento, e o Tribunal Arbitral do Desporto, após recurso do Benfica.
Segundo o que chegou à imprensa desportiva, o clube alegava um extenso rol de bizarrias a envolver Bilal.
Começou fora do Seixal, quando o jogador foi expulso da selecção neerlandesa sub-19 por convidar mulheres para um hotel durante o estágio – logo aqui, e estávamos em 2015, soaram os alarmes.
Depois, o clube alegou que Bilal foi apanhado em excessos – excesso de velocidade numa estrada francesa (e sem carta) e excesso de peso quando chegou à pré-época 2016/17.
Falou-se também de quando Bilal terá recusado pesar-se após um treino, de quando insultou pessoas do staff do clube, de quando se atrasou para treinos, de quando faltou a concentrações sem justificação e de quando se envolveu numa rixa em Lisboa.
Em 2017, o Benfica rescindiu o contrato de Bilal alegando justa causa, mas os intentos não foram alcançados e acabou por ser condenado a indemnizar o jogador.
Falhanço atrás de falhanço
O Benfica perdeu tempo (e dinheiro) com ele, mas Bilal também perdeu tempo com o Benfica. Depois disto, o Utrecht, o Denizlispor e o Den Haag deram-lhe oportunidades, mas Bilal nunca as aproveitou. Mais perdas de tempo.
Foi obrigado a ir para a segunda divisão neerlandesa e, apesar de ter ajudado o Volendam a subir ao primeiro escalão, disputou apenas 15 jogos.
No dia em que ajudou a equipa a bater o Cambuur e respirar melhor na Liga neerlandesa, o criativo celebrou quase um ano depois do último golo, numa carreira que já começou em 2014, mas que tem apenas seis golos. E marcou um golo na primeira divisão neerlandesa, algo que só tinha feito uma vez – e já em 2014, quando foi lançado pelo Twente.
Bilal parece alguém condenado ao ocaso, mas ainda só tem 25 anos. O director-desportivo do Volendam chegou a dizer sobre Bilal que "o talento não desapareceu". Para já, o dirigente está no domínio da fé, mas mais golos como o deste domingo poderão dar-lhe razão.