As pessoas “utilizam o seu legado [de Nelson Mandela] porque sabem que o seu nome vende — Harry e Meghan não são diferentes”, declarou Ndileka Mandela, neta do antigo Presidente da África do Sul e rosto do movimento anti-apartheid, ao jornal Australian (artigo disponível sob subscrição).
Live to Lead (De Que É Feito um Líder, na tradução portuguesa), que estreou a 31 de Dezembro, foi apresentada como uma série documental inspirada no Prémio Nobel da Paz Nelson Mandela. No trailer, Harry recorda Mandela: “Uma vez disse ‘o que conta na vida não é o simples facto de termos vivido’”. Meghan completa a citação: “‘É a diferença que fizemos na vida dos outros que irá determinar o significado da vida que levamos’.”
De acordo com a ficha técnica do projecto, criado e realizado por Geoff Blackwell, tendo os duques de Sussex como produtores executivos, Live to Lead foi feito em parceria com a Fundação Nelson Mandela, mas a neta da figura histórica, que morreu em 2013, diz que o príncipe Harry e a sua mulher, Meghan Markle, estão a “usar” o legado Mandela para obter lucros, recorrendo a citações do seu avô para “atrair pessoas e fazer milhões”.
“Fiz as pazes com as pessoas que usam o nome do avô, mas ainda é profundamente perturbador e chato de cada vez que acontece”, justificou Ndileka Mandela. E não é a primeira vez que a mulher sente isso em relação aos duques, recordando os comentários de Meghan, numa entrevista, em que estabeleceu um paralelo entre o seu casamento e a libertação de Nelson Mandela da prisão, “o culminar de quase 350 anos de luta em que gerações do nosso povo pagaram com as suas vidas”. E rematou Ndileka: “Não há comparação”.
A série De Que É Feito um Líder retrata, explica o serviço de streaming, “líderes extraordinários”, que “reflectem sobre os seus legados e partilham mensagens de coragem, compaixão, humildade, esperança e generosidade”.
Entre as pessoas chamadas a dar o seu depoimento estão as personalidades norte-americanas Ruth Bader Ginsburg, a antiga juíza do Supremo dos Estados Unidos da América, que morreu em 2020, vítima de cancro no pâncreas; Bryan Stevenson, advogado e activista social; e Gloria Steinem, ícone feminista e activista.
Mas também há testemunhos provenientes de outros cantos do globo. Como o de Greta Thunberg, a jovem sueca que continua a chamar a atenção do mundo para as alterações climáticas; de Jacinda Ardern, a primeira-ministra da Nova Zelândia; de Siya Kolisi, o capitão da selecção sul-africana de râguebi e activista contra a desigualdade social; e de Albie Sachs, activista anti-apartheid e ex-juiz do Tribunal Constitucional da África do Sul.