A primeira-dama brasileira Janja da Silva disse numa entrevista à revista Vogue que, na tomada de posse do presidente, queria “vestir algo que tivesse simbolismo para o Brasil, para os estilistas, para as cooperativas e para as mulheres brasileiras”. O fato crepe de seda foi feito com tecido nacional e detalhes em palha bordados por artesãs de Timbaúba dos Batistas, no Rio Grande do Norte. Os bordados são, afinal, inspirados pelo artesanato tradicional da Madeira, em Portugal.
“Os bordados produzidos na região do Seridó carregam a história da colonização portuguesa que se instala a partir do século XVIII”, pode ler-se na página da associação Artesol, dedicada ao artesanato solidário, onde se enquadram as artesãs de Timbaúba dos Batistas. Apesar de a técnica não ser exactamente a mesma, é muito semelhante e os elementos desenhados no fato de Janja são os tradicionais que ainda hoje se utilizam na pérola do Atlântico.
Os motivos bordados são normalmente flores e arabescos, tradicionalmente em linho de tons claros. É assim na Madeira, mas também nos Açores e em Viana do Castelo, outros dos locais onde o bordado é uma das formas de artesanato mais apreciadas.
O bordado, explicam as mulheres de Timbaúba dos Batistas, começa com a passagem do risco do papel para o tecido através de papel químico que faz com que o desenho surja a azul no linho. Esses contornos servem, depois, de guia para a agulha e a linha, materializando o ponto pela mão da bordadeira.
As formas de pontos mais comuns no bordado de Rio Grande do Norte e no lusitano são cheio, haste, matiz, rústico e arrendados, como o Richelieu. Os bordados podem ser feitos à máquina, ainda que tradicionalmente fosse a bordadeira responsável por executar à mão aquela arte.
Por cá, bordar era um ofício a que muitas mulheres recorriam para completar as lides domésticas e aumentar os rendimentos da família. No Brasil, explica a associação, bordar permitia também ao sexo feminino conquistar alguma autonomia financeira.
Actualmente, apesar de a profissão ter enfrentado um problema de renovação, a aposta dos criadores de moda num trabalho artesanal permitiu dar nova vida e nova utilidade aos bordados. É o caso de Helô Rocha, a designer que assinou o coordenado da primeira-dama, para a tomada de posse de Lula da Silva a 1 de Janeiro, e que se distingue pelas criações com recursos a bordados e rendas.
Em Portugal, são vários os criadores de moda que se inspiram nos bordados das várias regiões para as suas colecções. O exemplo mais conhecido é o de Joana Duarte da marca Béhen, que recuperou os antigos enxovais e deu vida a novas peças, preservando as técnicas centenárias. Actualmente, trabalha com bordadeiras tanto de Viana do Castelo, como de São Jorge, nos Açores.