Aos 14 anos, Aline Sousa não teve outra alternativa senão seguir as pisadas da mãe e da avó e tornar-se catadora, ou seja, recolher materiais recicláveis das lixeiras a céu aberto, vendendo-os de forma a ganhar sustento. Aos 33, com sete filhos e à frente de uma rede de cooperativas de catadores, Aline foi a mulher que colocou a faixa presidencial em Lula da Silva, numa cerimónia repleta de simbolismo.
Mas o caminho até ao alto da rampa do Planalto não foi fácil. “Já morei durante dez anos em ocupação irregular”, lembra a mulher num vídeo publicado nas redes sociais. “O nosso barraco era de lona e quando ocorriam as derrubadas, eles derrubavam tudo, não deixavam a gente retirar nada das lonas.” Inclusive os livros da escola. Mas, o sonho de adolescente renasceu recentemente, ao ingressar no curso de Direito: “É uma forma de voltar a esperança que eu tinha perdido quando adolescente.”
Em 2009, com 20 anos, foi beneficiária do programa Minha Casa Minha Vida, lançado durante a presidência de Lula e que subsidia a aquisição da casa ou apartamento próprio para famílias com rendimento mensal até 1800 reais (320€) e facilita as condições de acesso ao imóvel para famílias com rendimentos até nove mil reais (1500€).
Em 2012, foi eleita para a direcção do Centro das Cooperativas de Trabalho de Catadores de Materiais Recicláveis do Distrito Federal. Três anos depois, chegou a presidente da rede, estando actualmente no terceiro mandato.
Além de Aline Sousa e sem o presidente cessante para a passagem da faixa, Lula da Silva escolheu mais seis pessoas para o acompanharem ao longo da rampa do Planalto, Brasília, com a intenção de demonstrar que o seu mandato será inclusivo, como Francisco, de 10 anos, que ficou em primeiro lugar no último campeonato de natação da Federação Aquática Paulista; ou Ivan Baron, de 24 anos, um influenciador digital e activista pelos direitos das pessoas com deficiência (Baron tem paralisia cerebral provocada por uma meningite viral aos 3 anos)
O grupo incluiu ainda o professor de português Murilo de Quadros Jesus, de 28 anos; o metalúrgico Weslley Rodrigues Rocha, de 36 anos, que tem o grupo de rap Falange; o artesão paranaense Flávio Pereira, de 50 anos, que permaneceu 580 dias na vigília em Curitiba durante a prisão de Lula; a cozinheira Jucimara Fausto dos Santos, que, durante dez meses, ajudou a cozinhar para as pessoas na Vigília Lula Livre, em Curitiba; e o cacique Raoni Metuktire, de 93 anos, um líder indígena brasileiro da etnia caiapó, conhecido pela sua luta pela preservação da Amazónia e dos povos indígenas.
Outra convidada a acompanhar o novo chefe de Estado até ao Palácio do Planalto foi Resistência. A mulher do presidente eleito, Janja da Silva, tinha prometido a presença da cadela que adoptou e cumpriu.