Contra portugueses, a alegria suprema de Pelé foi frente ao Belenenses
Pelo Santos, Pelé venceu seis vezes o Benfica, em sete duelos, fazendo, num deles, aquele que o próprio considera ter sido o melhor desempenho da carreira.
Foram 16 jogos, 13 vitórias, duas derrotas e um empate. É este o registo de Pelé sempre que se encontrou com equipas portuguesas – clubes ou selecção nacional.
E foi frente a portugueses que o brasileiro, falecido nesta quinta-feira, cunhou algumas das mais importantes passagens da carreira. Desde logo, pela estreia no clube do coração.
Estreia com o Vasco frente ao Belenenses
Apesar de só ter jogado pelo Santos, a nível profissional, Pelé chegou a assumir que, em criança, sempre foi adepto do Vasco da Gama. E chegou mesmo a jogar pelo clube carioca, num torneio particular, antes de se juntar ao Santos. Foi a alegria suprema.
Em 1957, com tenros 16 anos, a estreia de Pelé nesse torneio – e, por extensão, como jogador do Vasco – foi frente ao Belenenses. Os brasileiros venceram por 6-1, no Maracanã, e Pelé fez três golos. Para o Belenenses, marcou Matateu.
A título de curiosidade, fica o “onze” do Belenenses nessa partida: José Pereira, Polido, Pires, Carlos Silva; Francisco Pires, Vicente Lucas; José Dimas, Faia, Ricardo Peres, Matateu e Tito.
Vicente Lucas “abafou” o “Rei”
Mais icónico – e ainda com ligação ao Belenenses – foi o encontro de Pelé com a selecção portuguesa no Mundial 66, prova na qual o “Rei” não estava nas melhores condições físicas.
Portugal venceu por 3-1, apurando-se para os quartos-de-final e “chutando” o Brasil de Pelé, Garrincha, Tostão ou Jairzinho para fora da prova. Nesse jogo, um jogador do Belenenses foi decisivo. Em “futebolês”, Vicente Lucas colocou Pelé “no bolso”.
O próprio recordou-o, ao DN, em 2018. “Nessa altura (anos 60-70), não havia isso da táctica. Havia a marcação homem a homem. O Otto Glória, que treinava o Belenenses e conhecia o Pelé, disse-me assim: 'Fica de olho nele. Se ele for à casa de banho, tu vais com ele.' Eu tentei, ele fugia pela esquerda, pela direita, pelo meio... Um jogador daqueles não se podia marcar, era difícil. Um jogador extraordinário, que não tinha um lugar certo para jogar. Marquei-o e não me saí mal. Não sei como o fiz, mas fiz. E nós ganhámos por 3-1”, relembrou Vicente Lucas, disparando: “Se cortas ou roubas a bola ao Pelé, tens o currículo feito.”
Icónicos foram, também, os vários duelos com o Benfica. Pelo Santos, Pelé venceu seis vezes o Benfica, em sete duelos, fazendo, num deles, aquele que o próprio considera ter sido o melhor desempenho da carreira.
Duas visitas “presidenciais” a Alvalade
Apesar de o Benfica ter sido a equipa que mais vezes defrontou Pelé, o Sporting também teve essa honra por duas vezes. A primeira, em 1958, quando o astro brasileiro visitou o Estádio José Alvalade, numa digressão europeia do Santos.
Com apenas 18 anos – já depois de ter subido ao topo do mundo, no Mundial 58 –, Pelé motivou uma enchente em Alvalade, numa altura em que se falava do interesse do Real Madrid no brasileiro.
O Sporting saiu na frente, com golos de Morais e Faustino Pinto, mas Osvaldinho, primeiro, e Pelé, depois, com um remate de muito longe, empataram o jogo.
Em 1960, Pelé voltou a encontrar o Sporting, mas, desta vez, ao serviço do Brasil. Reza a história que, para este particular disputado em Alvalade, o Brasil pediu uma antecipação da hora do jogo, mas o Presidente da República, Américo Tomás, que assistiu ao jogo, não o permitiu.
O Brasil venceu os “leões”, por 4-0, num jogo que tem um significado especial: é um dos que permitiram a Pelé e Garricha manterem a invencibilidade sempre que jogaram juntos. Em 40 jogos juntos, os dois craques venceram 35 – um dos quais foi este ao Sporting – e empataram cinco.