Devo falar com a minha filha sobre o seu aumento de peso?

Sendo introvertida, [a minha filha] Kim sente-se desconfortável por ir a sozinha a qualquer sítio e a maioria dos seus amigos vive a uma hora de distância.

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"Por estar demasiado cansada para cozinhar, confia em alimentos preparados com alto teor de hidratos de carbono e pouco valor nutricional" DR/Towfiqu barbhuiya/Unsplash

A minha filha, de 23 anos, Kim, começou a ganhar peso e a perder cabelo há um ano. Atribui a perda de cabelo a dois anos stressantes de faculdade, seguido por ter de se mudar subitamente e encontrar um novo emprego. Kim suspeita que o ganho de peso é um efeito secundário dos contraceptivos. Embora não lho tenha mencionado, preocupa-me que as mudanças se devam à dieta e à falta de exercício.

Sendo introvertida, Kim sente-se desconfortável por ir sozinha a qualquer sítio e a maioria dos seus amigos vive a uma hora de distância. Costumava ir ao ginásio com a sua antiga colega de quarto, que era uma excelente cozinheira e fazia frequentemente refeições saudáveis para ambas. Uma vez que a sua companheira de quarto actual raramente está em casa, a rotina de Kim tem assentado em longos dias de trabalho, seguidos de noites online.

Por estar demasiado cansada para cozinhar, confia em alimentos preparados com alto teor de hidratos de carbono e pouco valor nutricional. Compreendo que é adulta e os conselhos da mãe sobre a aparência corporal podem parecer pouco profundos e julgadores.

Entretanto, no ano passado, expressou o desejo de ver um terapeuta, mas devido à sua tendência para procrastinar e ao desafio de encontrar alguém, não avançou com a ideia. Estou muito preocupada com o impacto a longo prazo na sua saúde e gostaria que fosse a um médico. Devo dizer alguma coisa ou ficar quieta?

Uma mãe preocupada


Ama a sua filha, não é verdade?

Claro que sim! Essa pergunta era (esperemos) retórica. Penso que é importante, no entanto, por vezes ainda nos perguntarmos isso quando pensamos nos nossos entes queridos. Porque amar alguém nem sempre equivale a um comportamento amoroso, e a pergunta pode servir de âncora, que é o que se precisa neste momento.

A sua filha viveu um período de stress invulgar, e o seu corpo reagiu de uma forma normal. Mas, em vez de a sua saúde mental e bem-estar emocional serem as suas principais preocupações parece estar sobretudo preocupada com a estética. Tão preocupada com a sua aparência que se esqueceu dela e saltou directamente para a dieta e o exercício. A mensagem implícita é clara: “A sua preguiça está a torná-la feia.” Talvez não seja isso que esteja a dizer, mas não ficaria surpreendido se fosse isso que ela escutaria.

É claro que deve preocupar-se se a sua filha está a desenvolver o que acredita serem hábitos pouco saudáveis, mas quero que seja honesta. Estaria tão preocupada com os seus "hábitos" e a sua "saúde" e mesmo a sua introversão, se ela não tivesse começado a ganhar peso? Estaria preocupada com a sua saúde real ou apenas com a eficácia com que ela modela o verniz da saúde? (O que, para muitas mulheres jovens, geralmente significa apenas "Ela é magra?").

Penso que deveria dizer algo, e deveria ser algo como: "Tens planos para o próximo fim-de-semana? Pergunto isto porque sei que gostas de Monster Truck Rallies, e há um no centro de congressos. Pensei que seria fixe irmos. Vou comprar bilhetes."

As convenções de Monster Truck podem não ser a sua onda. Pode ser ir às compras ou o que quer que seja. O que quero dizer é que a sua filha expressou que está a sofrer um stress tão severo que está a ter impacte no seu corpo. Este não é o momento para comentários "superficiais e julgadores" sobre a sua aparência, porque nunca é o momento para isso. Em vez disso, ajude-a a aliviar algum stress e a experimentar alguma alegria.

Talvez este seja um período de transição para si como mãe, onde se torna mais um ouvido do que uma voz na sua vida. E, sim, penso que consultar um médico seria extremamente útil. Mas há uma grande diferença entre exortá-la a fazê-lo porque não consegue caber no seu velho jeans e sugeri-lo para resolver o stress.


Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
Tradução: Carla B. Ribeiro

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