Tesla perde mais de 80 mil milhões em valor numa semana
As acções continuam a desvalorizar e a empresa perdeu o equivalente a 22% de capitalização bolsista numa semana.
Enquanto Elon Musk aparenta andar mais concentrado no Twitter, os investidores da Tesla expressaram de forma explícita o seu descontentamento pela forma como o empresário sul-africano tem dirigido o negócio automóvel e contribuído para a desvalorização das acções.
Só esta semana, a Tesla perdeu 85 mil milhões de dólares em valor de mercado (cerca de 80 mil milhões de euros ao câmbio actual), ou o equivalente a 22% da capitalização bolsista, naquela que foi a pior semana desde os meses da pandemia, destaca o Financial Times.
É provável que este seja o pior desempenho anual da Tesla desde a entrada em bolsa, em 2010, “com os investidores preocupados que o Twitter esteja a consumir demasiado tempo ao bilionário”, escreve a Reuters.
A empresa cotada no índice norte-americano Nasdaq vale agora 386 mil milhões de dólares, mas já perdeu, desde o início do ano, cerca de 800 mil milhões de dólares em capitalização bolsista. Está, ainda assim, no top 10 das empresas mais valiosas do Nasdaq 100, acompanhada por nomes como Microsoft, Apple e Meta (Facebook).
As coisas correram particularmente mal esta semana para a empresa sediada em Austin, no Texas, porque, enquanto Musk continuava a fazer manchetes com o Twitter, um analista de uma das casas de investimento influentes da praça norte-americana manifestou receios quanto ao desempenho da Tesla e reduziu em 30% o preço-alvo do título (de 250 dólares para 175 dólares), como assinala o Market Watch, o site especializado em informação de mercados da Dow Jones.
Na sexta-feira, a acção da Tesla caiu 1,8% e fechou nos 123,15 dólares, que é o valor de fecho mais baixo desde Setembro de 2020, sublinha o Market Watch. O título já desvalorizou 64% desde o começo do ano.
O site cita uma nota de investimento do analista Dan Ives, da Wedbush Securities, que acredita que a Tesla poderá falhar metas de entregas no quarto trimestre, com números entre os 410 mil a 415 mil veículo, abaixo da estimativa anterior, de 450 mil unidades.
“A realidade é que depois de uma conjuntura de conto de fadas relativamente à procura que durava desde 2018, a Tesla enfrentará vários riscos em 2023”, sejam macroeconómicos ou relacionados com o mercado de veículos eléctricos. Esses riscos “começam a emergir quer nos Estados Unidos, quer na China”, escreveu o analista.
Ives acusou ainda Musk de "estar a dormir ao volante [da Tesla]" e ocupado com "o circo" do Twitter.
Esta semana, meios como a Fortune e o Tech Crunch escreveram que o facto de a Tesla ter anunciado descontos de 7500 dólares em dois dos principais modelos (Model 3 e Model Y) para os consumidores norte-americanos é sinal de que as vendas estão efectivamente a abrandar e que os investidores têm motivo para preocupação.
A imprensa especializada nota que o facto de Musk ter vendido grande quantidade de acções para financiar a compra da rede social Twitter – pela qual pagou 44 mil milhões de euros – também colocou pressão sobre a cotação.
A Reuters escreve mesmo que o compromisso de Musk de não vender mais títulos da Tesla durante pelo menos dois anos “fracassou no objectivo de acalmar os investidores”.
Pelo contrário, há quem questione mesmo se a estratégia do sul-africano, que tem, segundo a Forbes, uma fortuna pessoal avaliada em 146,5 mil milhões de dólares (cerca de 138 mil milhões de euros), não poderá rondar o limiar da legalidade.
“Se Musk vender mais mil milhões de dólares em acções num futuro próximo, e se isso colocar mais pressão negativa sobre o preço da Tesla, os investidores podem ter um caso sólido para se queixarem de fraude”, disse à Reuters o advogado Howard Fischer, que já trabalhou para a entidade supervisora do mercado norte-americano de capitais, a U.S. Securities and Exchange Commission (SEC).