Marciniak, o “padrinho” de Fernando Santos, abre o coração
É o primeiro árbitro polaco a dirigir uma final, depois de superar a taquicardia que o afastou do Euro 2020.
Argentinos e franceses conhecem-no relativamente bem. Falamos do “padrinho” de Fernando Santos, empresário polaco de má memória para a selecção portuguesa e para Taremi e que dentro de três semanas completa 42 anos, 14 deles a defender as leis de jogo.
Traído pelo coração antes do Euro 2020, que falhou por causa de uma taquicardia, Szymon Marciniak prepara-se para atingir o ponto mais alto da carreira ao quinto jogo em fases finais de Campeonatos do Mundo.
O polaco, antigo jogador do Wisla Plok que enveredou pela arbitragem em 2008, está nomeado pela FIFA para dirigir a final de hoje do Mundial do Qatar, entre França e Argentina.
Internacional desde 2011, ano em que recebeu as insígnias da FIFA, Szymon Marciniak está, por isso, a viver o sonho de quase todas as crianças: disputar a final de um Campeonato do Mundo… embora não como jogador.
Marciniak, um antigo médio defensivo que também fazia uma perninha a central e confesso inimigo público dos árbitros, cedo percebeu que chegar a uma final como futebolista era um sonho impossível.
Felizmente para o polaco, um cartão vermelho acabou por ser a revelação que transformou o “terror” dos homens do apito no principal “juiz” polaco. A história foi contada na primeira pessoa pelo próprio Marciniak ao site da UEFA.
Resumindo: Szymon decidiu protestar junto do árbitro que o expulsara, dizendo-lhe que fora o pior que encontrara na carreira. Como resposta, obteve um conselho. Se achava que o papel do árbitro era fácil, o melhor era assumir o apito e fazer melhor.
Marciniak ficou a pensar naquelas palavras e avançou para a segunda carreira no futebol. Mais tarde, numa partida de qualificação para o Campeonato da Europa de sub-21, pôde rir-se com o quarto árbitro, precisamente o que lhe apontou o caminho que o conduziu à final do Qatar.
A propósito de “padrinhos”, Szymon Marciniak pode muito bem ser considerado o “mentor” da passagem de oito anos de Fernando Santos pela selecção portuguesa, já que dirigiu, em 2014, o jogo de estreia do engenheiro, na derrota (2-1) com a França, em jogo amigável no Stade de France.
Pouco depois, o árbitro polaco surgiu no caminho dos sub-21 de Rui Jorge: primeiro com a Itália, na fase de grupos, e depois com a Suécia, na final (0-0) perdida nos penáltis. Mais recentemente, Marciniak foi protagonista no empate entre Portugal e Sérvia (1-1), na qualificação para o Euro 2020, e na expulsão de Taremi, em Madrid, frente ao Atlético, para a Champions.
Na Luz, Marciniak perdoou dois penáltis aos sérvios, deixando-se influenciar pelo assistente na mão de Rukavina, alterando a decisão inicial. Mas não é dos defeitos — como o que o “expulsou” do Rússia 2018 (após erro grave no Alemanha-Suécia (2-1), em que prejudicou os nórdicos) — mas sim das virtudes que interessa falar neste momento de reconhecimento mundial.
“Sobrevivi ao último ano e meio. Tive taquicardia e foi muito difícil ter que parar. Falhar o Euro foi sensação terrível”, recorda, em contraste com o sentimento de euforia actual.
“A vida compensou-me e não consigo parar de sorrir”, assume antes de reencontrar França e Argentina, selecções que dirigiu na fase de grupos (França-Dinamarca) e nos “oitavos” (Argentina-Austrália) ambos sem razões de queixa.
No Qatar, Marciniak “colocou” os franceses nos “oitavos”, onde os campeões do Mundo eliminaram a Polónia, depois de em 2018 ter “impedido” a “Albiceleste” de vencer o jogo de estreia, deixando passar em claro um segundo penálti (Messi falhou o primeiro) sobre Cristian Pávon.
Nesta final, o árbitro contará com uma equipa que integra outros polacos. Marciniak sublinhou, de resto, a importância de todos no trajecto que o levou ao cume. Entre os quais se encontra Tomas Listkiewicz, árbitro assistente que segue as pisadas do próprio pai, Michal, também ele assistente na final do Itália 1990, entre Alemanha e Argentina.