O Natal marca o nascimento de Jesus Cristo e, para muitas famílias, é esse o motivo principal para celebrar esta quadra. Para os católicos, por exemplo, não é Natal sem Missa do Galo. Mas participar nas celebrações religiosas pode ser um motivo de tensão para as famílias nesta quadra. Um novo estudo da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, diz que só 1 em cada 3 pais consegue levar os filhos à igreja.
Os conflitos sobre a religião começam a surgir sobretudo na fase da adolescência quando alguns jovens começam a perder interesse na fé. Enquanto metade dos 1090 pais questionados sobre o tema para o novo estudo diz respeitar a decisão dos adolescentes, 44% defende que os filhos não devem ter poder de escolha até terem 18 anos. A investigação foi levada a cabo entre Agosto e Setembro deste ano, junto de pais de jovens entre 13 e 18 anos, no Hospital Infantil C.S Mott da Universidade de Medicina do Michigan.
“A adolescência é uma época em que os jovens ganham mais independência nas suas crenças e escolhas de vida, incluindo se querem ou não abraçar as tradições de fé da família”, nota a directora do estudo e pediatra Susan Woolford. E reconhece: “Isto pode gerar tensão e conflito em algumas famílias quando as opiniões sobre a espiritualidade colidem, sobretudo durante as festas.”
Para tentar convencer os filhos a frequentar os serviços religiosos durante o Natal, só 10% dos pais confessa tentar negociar ou chantagear os filhos para que os acompanhem. Mas 2 em cada 5 tentam argumentar para mostrar a importância da religião, ainda que depois deixem os adolescentes tomar as suas próprias decisões.
Respeitando ou não a decisão dos miúdos, um terço dos progenitores desejava que os filhos os acompanhassem não só nas missas ou celebrações na igreja, como noutras actividades ligadas à fé. Três em cada 4 pais também concordam que esta ligação à fé em conjunto ajuda a cimentar a tradição familiar e fomenta a proximidade.
“Os pais podem ligar a religião às suas tradições familiares, e pode ser por isso que desejam partilhar estas experiências com os filhos”, contextualiza a pediatra. É esse o motivo por que, “quando os filhos não mostram interesse ou até expressam desdém por frequentar os serviços religiosos, os pais podem sentir como se fosse uma rejeição.”
É que a maioria dos pais só vê benefícios em ter uma relação com um poder superior, já que, argumenta, isso trará uma maior sensação de segurança e bem-estar aos adolescentes. Há mesmo estudos que sugerem que a participação em práticas religiosas durante esta fase da vida está ligada a efeitos positivos na saúde, mais tarde, na idade adulta, lembra Susan Woolford.
Todavia, avisa a médica, “os pais devem ter cuidado quando forçam os adolescentes que dizem não querer participar”. É que “se a adesão for conseguida através da força, vai anular quaisquer efeitos positivos”. Pelo contrário, devem tentar, sim, encontrar um “equilíbrio” entre passar os seus valores e não pressionar.
Como explorar a espiritualidade sem stress
Susan Woolford pede aos pais que estejam disponíveis a ouvir e compreender os pontos de vistas dos filhos sobre o tema da religião. Muitas vezes os adolescentes têm dúvidas sobre a espiritualidade e ajuda se conseguirem criar um espaço para questionar as ideias e admitir que nem sempre se tem a resposta. Pode ser que assim consigam chegar a um consenso: “Pode ajudar os adolescentes a perceber que uma verdadeira espiritualidade afinal é benéfica."
Se não chegarem a um consenso pleno, podem tentar encontrar um compromisso para ambos. Por exemplo, deixar os filhos escolher apenas alguns serviços religiosos mais importantes para família. Ou seja, em vez de irem à missa todas as semanas, podem apenas frequentar certas celebrações que os pais considerem fundamentais, como o Natal ou a Páscoa.
Além das cerimónias na igreja, é importante fazer ver que a fé se estende para fora dela, com muitas iniciativas como serviço comunitário ou tarefas sociais, que poderão fazer mais sentido para os jovens. E a quadra natalícia é uma óptima altura para explorar esse lado, quer seja voluntariar-se a visitar os idosos de um lar, servir comida aos sem-abrigo ou só ajudar a limpar e decorar a igreja, por exemplo.
“Focar-se no espírito da época e dar alguma flexibilidade aos adolescentes para escolherem como querem participar nas tradições religiosas da família pode ajudar a diminuir a tensão em torno das festas”, termina Susan Woolford. Afinal, o Natal deve ser uma época de amor e paz.