Vice-presidente do Parlamento Europeu acusada de corrupção vai continuar detida

Fontes judiciais disseram ao diário L’Echo que Eva Kaili é um dos quatro acusados no processo dos alegados subornos do Qatar. Casa de segundo eurodeputado alvo de buscas na noite de sábado.

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Eva Kaili é eurodeputada e uma das 14 vice-presidentes do Parlamento Europeu EPA/JALAL MORCHIDI

Eva Kaili, eurodeputada grega e uma das vice-presidentes do Parlamento Europeu (PE), foi detida e acusada dos crimes de pertença a organização criminosa, corrupção e branqueamento de capitais no âmbito da investigação sobre alegados subornos do Qatar a pessoas capazes de influenciar a tomada de decisões na assembleia europeia. A informação foi avançada ao diário belga L’Echo por fontes judiciais.

A eurodeputada – que lhe viu serem retirados os poderes do cargo, embora não o título de vice-presidente (uma das 14 que a câmara tem) – é uma das quatro pessoas que foram indiciadas por suspeita de “pertença a uma organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção”, refere o comunicado oficial da Procuradoria-Geral belga, que, no entanto, não identifica nenhum nome. Outras duas pessoas detidas na sexta-feira foram postas em liberdade.

A procuradoria confirma igualmente a busca no domicílio de um segundo eurodeputado na noite de sábado, também relacionada com esta investigação sobre “terceiras partes com posições políticas e/ou estratégicas dentro do Parlamento Europeu que receberam grandes somas de dinheiro ou lhes foram oferecidos presentes caros para influenciar as decisões da eurocâmara”.

Kaili foi interrogada desde sexta-feira quando foi detida e, no fim das 48 horas determinadas pela lei belga, a procuradoria emitiu ordens de prisão para a eurodeputada, para o seu companheiro, Francesco Georgi, assessor parlamentar do PE em matérias de direitos humanos, para o ex-eurodeputado Pier Antonio Panzeri (que liderou a subcomissão de direitos humanos da assembleia de 2017 a 2019) e para um intermediário de Bruxelas identificado apenas como “F”, refere o jornal Le Soir, citado pela Europa Press.

A mulher de Panzeri, Maira Colleoni, e a filha, Silvia Panzeri, também foram detidas na sexta-feira em Itália, a pedido da justiça belga, por suspeitas de que conheciam as actividades ilícitas. A detenção domiciliar foi confirmada no sábado por um tribunal italiano.

Entretanto, Luca Visentini, secretário-geral da Confederação Sindical Internacional, saiu em liberdade condicional, enquanto o pai de Eva Kaili, apanhado no sábado com uma mala cheia de dinheiro quando saía de um hotel em Bruxelas, foi posto em liberdade.

Kaili, como Panzeri antes, está integrada no grupo parlamentar europeu dos Socialistas e Democratas.

Segundo eurodeputado

O Ministério Público não menciona o nome do segundo eurodeputado cuja casa foi alvo de buscas “por volta das 20h de sábado” (21h em Portugal continental), mas fontes judiciais disseram ao Le Soir que se trataria do socialista belga Marc Tarabella, que não foi, no entanto, privado de liberdade.

Como o PÚBLICO referiu no sábado, os gabinetes dos eurodeputados belgas Maria Arena e Marc Tarabella teriam sido selados pela polícia no âmbito das investigações. Nenhum dos eurodeputados comentou a situação. O Partido Socialista belga, no entanto, já convocou Tarabella, diz o Le Soir, para prestar esclarecimentos sobre a situação, depois das buscas ao seu domicílio.

De acordo com o diário italiano Domenica, Francesco Georgi trabalhou com Maria Arena, igualmente socialista e que é a actual presidente da subcomissão de direitos humanos (também é membro da comissão de assuntos externos). No entanto, na agenda da eurodeputada não há registo de encontros com lobistas, mas com organizações não-governamentais preocupadas com a situação dos direitos humanos e com o Governo do emirado.

Tarabella, de acordo com o seu site oficial, é vice-presidente da delegação para as relações do PE com a Península Árabe e, a 21 de Novembro, também participou no debate na câmara sobre A Situação dos Direitos Humanos no contexto do Mundial da FIFA no Qatar, em que a defesa fervorosa do Governo do emirado feita por Eva Kaili chamou muito a atenção dos eurodeputados.

Tarabella foi mais comedido na sua intervenção, mas não deixou de elogiar o discurso da vice-presidente do PE e “o progresso sobre os direitos dos trabalhadores” no Qatar. “Há quase nove anos, votámos uma resolução sobre a situação deplorável dos direitos dos trabalhadores no Qatar. Durante nove anos, não houve mais nenhuma resolução pela simples razão – e a senhora comissária explicou-o no seu discurso bem medido – de que houve progressos sobre o direito dos trabalhadores”, disse.

“A situação não é perfeita hoje no Qatar, longe disso”, explicou Tarabella, “ainda há muito progresso a fazer, mas foi o próprio país a empenhar-se na via das reformas” e “a organização do Mundial, além de todos eventos que organizou, foi provavelmente o gatilho que acelerou essas reformas”.

A intervenção do eurodeputado, ao contrário da de Kaili, moderadamente positiva, sublinha que “o discurso unilateralmente negativo” poderia ser “prejudicial à evolução dos direitos no futuro do Qatar” e à influência que as reformas qataris poderão ter “em todos os países da Península Arábica”.

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