Marrocos é a primeira surpresa dos quartos-de-final
Selecção africana não tremeu perante o poderio espanhol e voltou a não sofrer golos, nem no desempate por penáltis.
Marrocos tornou-se esta terça-feira a quarta selecção africana a alcançar os quartos-de-final de um Mundial, depois dos Camarões, em 1990; Senegal, em 2002, e Gana, em 2010. Para fazer história, protagonizou a grande surpresa dos oitavos-de-final do Qatar ao eliminar a Espanha, um dos principais candidatos ao título, nas grandes penalidades. Depois de arrancar a competição com uma prometedora goleada à Costa Rica (7-0), a equipa de Luis Enrique desiludiu e ficou em branco na partida, penáltis incluídos.
Não é um cenário novo para os espanhóis. Foram afastados do Mundial de 2018 pela anfitriã Rússia, também nos oitavos-de-final, e no Europeu de 2020, pela Itália, nas meias-finais, sempre no desempate da marca do castigo máximo. A novidade é não terem apontado qualquer golo desta vez. Falharam Sarabia, Soler e Busquets. Os remates dos dois últimos foram travados pelo guarda-redes Yassine Bounou e o ex-avançado do Sporting acertou no poste.
Um prémio enorme para Marrocos, que soube tornar irrelevante o futebol de posse espanhol em quase toda a partida. A solidez e qualidade defensiva é o grande argumento de uma selecção madura, paciente, que aguentou a pressão do oponente, fechando quase todas as linhas de passe e criando algumas das maiores oportunidades do encontro, nas escassas, mas venenosas incursões à área adversária.
Uma selecção africana que viu as suas redes abanar apenas uma vez nos quatro jogos já disputados, frente ao Canadá (2-1) e, mesmo esse, foi um autogolo de Nayef Aguerd. Um dos defesas que esteve em destaque, agora pelos melhores motivos, frente aos espanhóis.
A jogar com um bloco médio-baixo, os marroquinos tiveram ainda o mérito de anular o criativo meio-campo adversário, onde Pedri e Gavi não conseguiram ser os jogadores determinantes para criar desequilíbrios e servir os jogadores mais adiantados. Mesmo sem bola, o conjunto (muito bem) orientado por Walid Regragui, controlava a sua circulação, sem nunca se desposicionar.
Marrocos – que alinhou com oito jogadores nascidos fora do país – teve mesmo as principais oportunidades do primeiro tempo, nas escassas saídas para o ataque que arriscou e que a Espanha não anulou.
Aos 12’, Achraf Hakimi cobrou um livre um pouco por cima da baliza de Unai Simon; aos 33’, um forte remate de meia distância do lateral Noussair Mazraoui obrigou o guarda-redes do Athletic Bilbao a uma defesa a dois tempos e, aos 42’, foi Aguerd a cabeçar por cima, após um grande trabalho de Boufal na esquerda. Pelo meio, surgiu a primeira verdadeira ameaça dos espanhóis, com Asensio a rematar às malhas laterais.
O segundo tempo trouxe a equipa ibérica ainda mais pressionante, mas sem conseguir fazer Marrocos tremer, ainda que tenha desistido praticamente do ataque. Um livre de Dani Olmo esteve perto de impedir o prolongamento, no último instante do tempo regulamentar, mas Bounou resolveu.
Os 30 minutos extra não trouxeram grandes novidades tácticas, com a Espanha a ser fiel ao seu estilo de jogo até ao apito final. Com os penáltis no horizonte, as duas equipas tiveram duas oportunidades soberanas para impedir a lotaria. Aos 104’, uma grande defesa Unai Simón impediu o golo a Cheddira (entrado aos 82’).
Do outro lado, já no minuto final dos descontos do prolongamento, Pablo Sarabia acertou no poste, para desespero de Luis Enrique.
Nas grandes penalidades, quem tremeu foram os espanhóis, permitindo a grande festa marroquina, que fazia história no Mundial. Sabiri, Ziyech marcaram; Cheddira viu o remate travado por Unai Simón, mas Hakimi confirmou mesmo que será Marrocos a enfrentar… nos quartos-de-final. E, pelo que assistiu neste jogo, chegará a esse encontro como fortes possibilidades de continuar o sonho.