974 motivos de espanto
Já encerrei a viagem pelos estádios do Mundial 2022. O Education City, onde Portugal perdeu com a Coreia do Sul, era o recinto que me faltava para fazer o “bingo” dos estádios do Qatar e, terminado o roteiro, já consigo fazer uma apreciação.
Os estádios Al Janoub, Al Thumama, Education City, Bin Ali e Khalifa são belos, mas não provocam especial entusiasmo. O estádio Lusail é, por fora, um espanto – espanto todo dourado, com beleza especial à noite.
Sobram dois estádios. Um, o estádio Al Bayt, é de uma beleza tremenda. Saído da cabeça de dois arquitectos, um deles Albert Speer Jr., cuja história de vida contei aqui, replica casas nómadas por fora, com o formato superior das tendas beduínas, e por dentro, com revestimento dos tectos em padrões árabes. É uma obra de arte e justificou em pleno a escolha para estádio da cerimónia de abertura do Mundial.
Ainda assim, creio existirem mais razões – 974 razões – para visitarem o estádio no qual Portugal bateu o Gana, na estreia no Mundial.
O estádio 974 é a prova de que menos é mais. Não tenho especial apetência para crítica arquitectónica, mas o olhar de leigo até é o olhar da maioria das pessoas. Nessa medida, tenho dúvidas de que tenha havido alguém indiferente ao estádio feito com 974 contentores de carga.
É inovador, tem um ar algo rústico, quase a fazer lembrar um centro cultural alternativo, com contentores e grafítis. Os próprios elevadores são contentores e a criança que há em mim quis andar num desses assim que os vi. E andei.
?????Diogo Cardoso Oliveira, enviado do PÚBLICO ao Mundial do Qatar, já se encontra à porta do Estádio 974, em Doha, onde vai ser o jogo. Siga ao minuto: https://t.co/7Z8GVKdoGt pic.twitter.com/0x31FY1p8P
— Público (@Publico) November 24, 2022
E este é um estádio que vai ser desmanchado em grande parte e os contentores vão, em tese, servir para outros eventos, noutros locais. No Qatar, nem tudo é sobre dinheiro.