Uma correcção importante

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Uma passadeira em Lusail DCO

Há dias, cometi um erro neste jornal. Escrevi que “no Qatar, os locais mostram-se diária e permanentemente serenos. Por vezes, até chegam a parecer pachorrentos. E isto está longe de ser uma crítica – é até um elogio tremendo”. Não contente, ainda me dei ao luxo de escrever o seguinte: “Apanhados no meio deste ímpeto qatari de se tornar mais mundano e, em certa medida, até algo ocidental, este povo mantém uma calma admirável. Em tudo”.

Hoje, estou aqui para corrigir o que disse. Os qataris são tranquilos e serenos, sim, desde que não lhes dêem um carro para as mãos. Ou um autocarro. Ou uma moto.

Andar a pé em Doha carece de uma aprendizagem específica que eu demorei alguns dias a assimilar – na verdade, ainda não posso dizer que já a tenha perfeitamente enraizada nas minhas caminhadas.

Altas velocidades dentro da cidade? Por cá, há disso. Manobras perigosas em plenas vias rápidas? Também temos. Parar em passadeiras? Isso é que já é complicado.

Por cá, um veículo motorizado parar numa passadeira de livre vontade, sem haver especial perigo de atropelamento, é algo que roça a utopia. Aqui, não chega parar, escutar e olhar. É preciso parar, escutar, olhar e, depois, escolher uma de duas vias. 1) Esperar que não venha ninguém. 2) Dar uns passos em frente, para o meio da estrada, e esperar que essa audácia justifique pé no travão de quem vem de carro. Confesso que, por vezes, no ímpeto provocador, é para a opção 2 que me atiro.

Mas tudo isto tem um twist. É que no meio desta audácia o Qatar é tudo menos desorganizado na estrada. Chega até a parecer bizarro como eles se entendem nestas velocidades e, diz alguém que tem andado todos os dias de autocarro, fazem uma condução até bastante segura.

Questionei um condutor de autocarro sobre o estilo de condução. Ele riu-se – um riso simpático, mas também algo condescendente. Senti que queria dizer-me algo como “pobre rapaz, mal sabes tu da missa a metade”. E ele deu-me a missa.

- Meu amigo, isto melhorou muito agora para o Mundial. Já reparaste nas lombas? Há imensas lombas para reduzir a velocidade. E nós conduzimos bem.
- Ah isto costuma ser pior? OK então...

Larguei o tema, agradeci a boleia e fui embora. Está explicado por que motivo o piloto Nasser Al-Attiyah é um herói nacional. É que eles, de facto, sabem conduzir.

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