Da Rússia, com amor

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O media centre do estádio Khalifa, mais um local gelado DCO

32, 33, 30, 29, 27, 27, 27, 28, 30, 31. Estas foram as temperaturas em Doha desde que cá cheguei. Quentinho, quentinho. Apesar disso, tenho andado quase todos os dias com uma camisola comigo – e arrependi-me naqueles em que não andei.

No Qatar, o ar condicionado é mais do que um recurso para conforto, é um factor de desconforto. Parece até um modo de vida. Sem ele, sentem-se incompletos. E eu, com ele, sinto-me incompleto – com saúde a menos.

Na minha cabeça, tenho disparado insultos diários aos qataris responsáveis por controlar a temperatura de cada espaço onde entro. E por vezes até verbalizo, entre dentes, esses impropérios à portuguesa.

O baixo número de camisolas que trouxe atesta até o quanto um lisboeta encalorado nunca pensou que fosse sentir, em Doha, o Inverno português.

O ar acondicionado está sempre ligado. Nos autocarros, no supermercado, no media centre, no estádio, no metro ou nos corredores. Andar em Doha, entre o ar livre e os espaços fechados, é uma montanha-russa de quente e frio permanente. E é mesmo na Rússia que me sinto várias vezes. E não sou o único.

“Que raio é isto? A Sibéria?”, disparou um jornalista estrangeiro quando entrou no autocarro dos media a seguir ao Tunísia-Austrália. Lá dentro, já outros congelavam há alguns minutos – e havia os heróis de manga curta e outros, como eu, já escaldados (utilização longe de ser literal), de manga comprida e gola puxada até ao pescoço.

Já no fim dessa viagem, dei por mim, no máximo da minha crueldade, a celebrar interiormente o espirro dado pelo motorista. E a frase que disse na minha cabeça não pode ser transcrita nas páginas deste jornal.

No Qatar, lenços, descongestionador nasal e pastilhas para a garganta foram os três melhores amigos que fiz por cá e há vários relatos de jornalistas que têm estado doentes.

Antes de eu embarcar em Lisboa, uma senhora sábia e experiente disparou-me um rol de perguntas. “Levas ben-u-ron? E brufen? E gotinhas para o nariz? E levares algo para a garganta? Não queres pedir à Déni [médica] um antibiótico, pelo sim, pelo não?”. As mães têm sempre razão.

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