Alessandro Michele deixa de ser director criativo da Gucci

Alessandro Michele estava há vinte anos na marca italiana.

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Alessandro Michele é o nome por trás da recuperação de todo o esplendor da Gucci Reuters/MARIO ANZUONI

“Há alturas que os caminhos de dividem em diferentes direcções por causa das diferentes perspectivas que cada um de nós tem”, escreveu o criador italiano no Instagram.

Foi com Alessandro Michele que a marca de luxo italiana Gucci recuperou o esplendor de outrora, reafirmando-se como a estrela do conglomerado Kering. O criador italiano agitou a indústria da moda desde que assumiu os comandos da casa florentina em 2015 e agora voltou a fazer estremecer ao anunciar que está de saída. “Esta jornada extraordinária termina para mim”, comunicou o designer, esta quarta-feira, numa publicação de Instagram.

Quando, em 2015, foi anunciado como o novo director criativo da Gucci, a decisão surpreendeu e Michele pareceu surgir como quase um novato entre a indústria. Mas o criador natural de Roma, agora com 49 anos, já conhecia a marca como a palma da mão─ fazia parte da equipa de acessórios há mais de uma década. Este ano celebrava mesmo 20 anos na casa.

À frente da Gucci foi responsável pelo seu rejuvenescimento e por a recuperar do marasmo que havia ficado desde a saída de Tom Ford em 2004. A sua visão excêntrica com foco na inclusão trouxe para a moda italiana ─ clássica, por natureza ─ a conversa sobre temas como o género ou a raça. Ficará, certamente, para a memória o desfile da Semana da Moda de Milão, em Setembro deste ano, onde desfilaram 68 duplas de gémeos.

Mas mais do que revolucionar criativamente, a nova visão de Alessandro Michele reavivou financeiramente a Gucci e foi um balão de oxigénio para a Kering, o grupo a que a marca pertence, ao lado de etiquetas como a Balenciaga ou a Saint Laurent. Só durante o ano passado, a marca foi responsável por um lucro de dez mil milhões de euros.

Contudo, como nem tudo é eterno, o crescimento foi abrandando. Durante este ano, o designer ainda tentou gerar movimento em torno da marca com uma colecção em parceria com a Adidas e uma linha coassinada pelo cantor de sucesso e embaixador da marca, Harry Styles. Ainda assim, há vários dias que a imprensa especialista em moda profetizava a saída de Michele e o comunicado derradeiro chegou esta quarta-feira por parte da Gucci, sendo confirmado de seguida pelo criador.

“Há alturas que os caminhos se dividem em diferentes direcções por causa das diferentes perspectivas que cada um de nós tem”, começa o comunicado publicado por Alessandro Michele, na legenda de uma fotografia onde faz uma vénia de agradecimento. Aquela que apelidou “jornada extraordinária” termina depois de “mais de 20 anos”, numa empresa a que dedicou “todo o amor e paixão criativa”. “Durante este longo período, a Gucci foi a minha casa, a minha família adoptiva”, declara, deixando um agradecimento a todos os que o acompanharam.

O presidente da Kering, Francois-Henri Pinault, elogiou num comunicado citado pelo New York Times, que “a jornada que a Gucci e o Alessandro fizeram juntos durante estes anos é única e ficará como um momento marcante da história da casa”. O responsável informou, ainda, que a equipa de design continuará a produzir as colecções até que seja anunciado um sucessor para o cargo.

Ao PÚBLICO, a propósito da estreia do filme Casa Gucci, as opiniões dos especialistas sobre Alessandro Michele dividiam-se. O historiador de moda Paulo Morais-Alexandre criticava o criador por abusar dos símbolos da marca e não previa mesmo “nada de bom”. A jornalista e professora de História Social da Moda, Maria João Martins, concordava, lembrando que a abordagem era “pobre”. Já Eduarda Abbondanza, docente de moda e responsável da ModaLisboa, elogiava a capacidade de Michele rejuvenescer a Gucci.

Mudanças na Kering

A brusca despedida de Alessandro Michele é mais uma surpresa no grupo Kering que tem um padrão de saídas repentinas não só na Gucci, como nas restantes casas liderada por Pinault. Em 2004, chocou a indústria ao separar-se de Tom Ford e, em 2014, despediu a designer Frida Ginannini também da Gucci.

Um ano depois, contrata subitamente Demna Gvasalia para liderar os destinos da Balenciaga. O ano passado anunciou a partida súbdita de Daniel Lee da Bottega Lee da Bottega Veneta, no auge do seu sucesso. O criador britânico tomaria recentemente o lugar de Riccardo Tisci, na Burberry.

Os holofotes viram-se agora para o acontecerá à Gucci e se o CEO Marco Bizzarri estará de partida também com o director-criativo. A marca deverá apresentar a colecção masculina na Semana da Moda de Milão, em Janeiro. Resta saber, onde estará nessa altura Alessandro Michele.

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