Bruce Lee morreu por beber água em excesso, defende novo estudo

O actor morreu subitamente e a causa é alvo de discórdia há quase 50 anos. Agora, um grupo de investigadores diagnostica hiponatremia e lança o alerta: “A ingestão excessiva de água pode matar.”

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Bruce Lee morreu a 20 de Julho de 1973, aos 32 anos DR

Lee tornou famosa a citação ‘Sê água, meu amigo’, mas o excesso de água parece ter acabado por o matar”, conclui um estudo publicado no Clinical Kidney Journal e que integra a revista de Dezembro.

Um grupo de investigadores dedicou-se a escrutinar a vida de Bruce Lee, tudo o que fez no dia da sua morte e analisou todos os relatórios médicos. Objectivo: determinar a causa da morte súbita quando o também actor e produtor tinha apenas 32 anos. É que, embora o relatório oficial tenha apontado para um edema cerebral, o óbito tem sido foco de uma série de teorias, inclusive de conspiração.

O que se sabia é que, em Maio, apenas dois meses antes de ter perecido, a 20 de Julho de 1973, Bruce Lee tinha dado entrada no hospital, depois de ter desmaiado no estúdio Golden Harvest. O atleta queixava-se de dores de cabeça, teve convulsões e desmaiou. Foi-lhe diagnosticado um edema cerebral e o inchaço do cérebro foi reduzido com a administração de manitol.

No dia da sua morte, Lee queixou-se de dores de cabeça e a actriz taiwanesa Betty Ting, com quem estava, deu-lhe ​Equagesic, um analgésico opióide da família do fenazepam, com ácido acetilsalicílico (aspirina) e meprobamato (um derivado de carbamato usado como medicamento ansiolítico). Lee foi dormir e não voltou a acordar.

Betty Ting relatou tê-lo encontrado sem reacção e chamou um médico que procedeu a manobras de reanimação e enviou o actor de ambulância para o hospital. Bruce Lee foi declarado morto à chegada. De acordo com o relatório da autópsia, não havia qualquer ferimento externo visível, mas o seu cérebro estava muito inchado, com um peso de 1575 gramas (o cérebro adulto de um homem pesa em média 1336 gramas e, no caso de Lee, os 239 gramas extra representavam um aumento de quase 18%).

A conclusão foi, então, de que Lee tinha morrido na sequência de um edema cerebral, causado por uma reacção adversa ao Equagesic. No entanto, o actor tinha tido um edema cerebral recente e este não tinha tido qualquer relação com o medicamento em causa, como garantiu Don Langford, missionário baptista e médico de Lee em Hong Kong, que o tratara por altura do primeiro incidente, acrescentado: “Ninguém morre de um comprimido de Equagesic.”

A explicação do médico sobre o primeiro episódio poderá elucidar melhor o que se terá passado em Julho: “Lee foi trazido por vários homens do seu estúdio. (...) Após termos fracassado em fazer Lee reagir e depois de esperar que o neurocirurgião o examinasse, demos-lhe manitol para reduzir o inchaço do cérebro que tínhamos detectado.”

O manitol está indicado para a redução da pressão intracraniana e tratamento do edema cerebral, mas sobretudo para a promoção da diurese, na prevenção da falência renal aguda durante cirurgias cardiovasculares e após trauma, sendo também usado para obrigar a excreção urinária de substâncias tóxicas.

Excesso de água pode matar

O recurso a tal medicamento alimentou teorias da conspiração. Uma delas era de que tinha sido assassinado pela máfia italiana, chinesa ou americana, já que, duas semanas antes da morte, o artista marcial tinha ameaçado um homem, Lo Wei, conhecido por ter ligações com o mundo do crime organizado.

No entanto, não havia indícios de envenenamento nem quaisquer químicos no seu corpo à excepção de os compostos do Equagesic; foram também encontrados resíduos de marijuana no estômago, mas, esclarecem os investigadores do último estudo, “a ingestão oral [de marijuana] não é capaz de conduzir a uma intoxicação aguda”.

Agora, o sucesso do manitol no primeiro colapso leva os estudiosos a concluírem que Bruce Lee estava de facto a ser envenenado, mas por quantidades de água elevadas, fruto de não ser capaz de excretar a que consumia, traduzindo-se na redução da concentração plasmática de sódio.

É sabido que Bruce Lee bebia muita água e a sua mulher, Linda, chegou a contar que o marido tinha uma dieta à base de líquidos, em que se destacava o “sumo de cenoura e maçã”. Depois, no livro Bruce Lee, A Life (ed. Simon & Schuster Ltd, 2018), o autor Matthew Polly, que defende a tese de que Lee morreu de um golpe de calor, “refere-se repetidamente à ingestão de água durante o dia, incluindo pouco antes de Lee ficar visivelmente doente: ‘Penso que tínhamos alguma água... Que provavelmente o deixou um pouco cansado e sedento. Depois de alguns goles ele pareceu um pouco tonto... Imediatamente após se sentir a desmaiar, Bruce queixou-se de uma dor de cabeça'”.

A comunidade médica recomenda, para indivíduos adultos saudáveis, o consumo diário de 1,5 a 3 litros de água.

No estudo explica-se que uma situação em que a excreção de água na urina não corresponde ao excesso de água consumido “pode levar a hiponatremia, edema cerebral e morte em poucas horas” — “o que corresponde à linha temporal da morte de Lee”.

Em conclusão, os investigadores apontam o consumo excessivo de água como a causa do edema cerebral que viria a revelar-se fatal. Isto porque “o facto de sermos 60% água não nos protege das consequências potencialmente letais de beber água a um ritmo mais rápido do que os nossos rins podem excretar o excesso”.

O estudo sublinha a importância desta conclusão e deixa o alerta: “Dado que a hiponatremia é frequente, como se verifica em até 40% das pessoas hospitalizadas e pode causar a morte devido à ingestão excessiva de água mesmo em pessoas jovens saudáveis, é necessária uma maior disseminação do conceito de que a ingestão excessiva de água pode matar​.”


Artigo corrigido às 19h40
Por lapso, referia-se “quantidades de sódio elevadas” em vez de “quantidades de água elevadas"; a hiponatremia, que consta na conclusão do estudo em causa, ocorre quando os níveis do sódio no sangue estão inferiores ao normal​.

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