Marcelo não está sozinho no “esquecimento” das violações de direitos humanos

Tal como Marcelo, outros políticos de relevo dão prioridade ao desporto em detrimento da defesa dos direitos humanos. É o caso de Macron, que diz que o desporto “não deve ser politizado”.

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Emmanuel Macron, Presidente francês, diz que "o desporto não deve ser politizado". EPA/RUNGROJ YONGRIT / POOL

Marcelo Rebelo de Sousa mereceu uma chuva de críticas depois das declarações que fez após o jogo de preparação para o Mundial da selecção nacional contra a Nigéria, mas não está sozinho na tomada de posição polémica. O Presidente francês e o secretário de Estado britânico para os Assuntos Externos são outros dos políticos que ignoraram as violações de direitos humanos perpetradas no Qatar, país anfitrião do Mundial de futebol de 2022.

“O Qatar não respeita os direitos humanos. Toda a construção dos estádios e tal, mas, enfim, esqueçamos isto. É criticável, mas concentremo-nos na equipa. Começámos muito bem e terminámos em cheio”. Foi esta a afirmação do Presidente da República que mereceu repúdio da esquerda à direita do Parlamento português, mas Marcelo Rebelo de Sousa está longe de ser o único a considerar que o desporto se sobrepõe a direitos humanos, laborais e sociais.

Ainda esta semana, numa conferência que teve lugar na Tailândia, o Presidente francês, Emmanuel Macron, disse que “o desporto não deve ser politizado” e lembrou que as questões agora a ser levantadas deveriam tê-lo sido no momento em que a organização do Mundial 2022 foi atribuída ao Qatar – ainda que as violações de direitos humanos neste país sejam denunciadas há anos.

Também recentemente, James Cleverly, o secretário de Estado britânico para os Assuntos Externos optou por aconselhar os fãs de futebol da comunidade LGBTQ+ que estejam de passagem pelo Qatar a serem “respeitosos para com a nação anfitriã”. O Qatar, recorde-se, criminaliza a homossexualidade e, numa entrevista transmitida este mês pela estação televisiva ZDF, um embaixador do Mundial classificou a homossexualidade como “um distúrbio mental".

Uma posição diferente tem tido o poder local em vários países. Barcelona, Paris, Marselha ou Londres são algumas das cidades em que a administração local já fez saber que não irá disponibilizar espaços públicos para a visualização de jogos do Mundial. A mesma decisão também já foi tomada pelas câmaras municipais de Lisboa e do Porto, mas, nestes casos, o protesto político não é a única explicação para tal. No caso do Porto, a decisão é motivada pelo clima chuvoso típico desta época do ano e, também, pelo facto de o calendário dos jogos entrar em choque com o horário laboral da maioria da população. Já a Câmara Municipal de Lisboa não explica as razões que motivaram a decisão.

No mês passado, mais de uma centena de deputados franceses assinaram uma petição a apelar à FIFA para criar um fundo com um montante mínimo de 440 milhões de dólares para compensar todos os trabalhadores, e respectivas famílias, que tenham participado na preparação do Mundial e cujos direitos tenham sido violados. Pouco antes, um grupo de 15 membros do Congresso norte-americano já tinha enviado uma carta ao presidente da FIFA, Fianni Infantino, a exigir compensação para os trabalhadores migrantes do Qatar.

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