FTX apresenta pedido de insolvência nos EUA. Presidente executivo demite-se
A decisão surge depois de a empresa ser incapaz de dar resposta ao aumento do número de clientes que queriam retirar os fundos da plataforma.
A bolsa de compra e venda de criptomoedas FTX anunciou esta sexta-feira que submeteu um pedido de insolvência nos Estados Unidos. A decisão surge depois de a empresa das Bahamas ser incapaz de dar resposta ao aumento do número de clientes que queriam retirar os fundos da plataforma; o fundador e presidente executivo Sam Bankman-Fried demitiu-se na sequência da uma crise de liquidez na empresa.
Os anúncios, feitos através da conta oficial da empresa no Twitter, acontecem dias depois de a concorrente Binance se ter afastado de uma proposta de aquisição.
“O desbloqueio imediato do capítulo 11 [da lei de insolvências dos Estados Unidos] é apropriado para dar ao grupo FTX a oportunidade de avaliar a sua situação e desenvolver um processo para maximizar as recuperações para as partes interessadas”, lê-se num comunicado assinado pelo novo presidente executivo, John Ray III.
O capítulo 11 impede que os credores congelem os activos da empresa enquanto esta tenta elaborar e executar um programa de reestruturação. Este é o primeiro passo num processo legal que pode culminar numa falência.
A empresa Alameda Research, que também é detida por Bankman-Fried, está incluída no pedido de protecção de credores. Fontes contactadas pela Reuters acreditam que esta empresa está por trás de parte dos problemas da FTX e deve à FTX cerca de 10 mil milhões de dólares.
Os sinais de alarme precipitaram-se na semana passada, quando uma notícia da CoinDesk, uma revista online sobre criptomoedas, alertou para o facto de o balanço da Alameda Research, um serviço irmão da FTX, ser composto principalmente pelo token FTT, que dava aos titulares um desconto quando usavam aquela plataforma. O serviço de câmbio da FTX, a Alameda, dependia, assim, de uma moeda inventada pela empresa irmã.
Os problemas abalaram a confiança no sector das criptomoedas e em Sam Bankman-Fried, que até há pouco tempo era comparado com o bilionário Warren Buffett.
Desde Janeiro, a FTX estava avaliada em 32 mil milhões de dólares (cerca de 31,5 mil milhões de euros), depois de angariar 400 milhões de dólares numa ronda de financiamento – a gigante tecnológica japonesa Softbank estava entre os investidores. Bankman-Fried reunia-se frequentemente com legisladores norte-americanos para falar sobre o futuro das criptomoedas.
"Lamento. Isso é o mais importante. Lixei tudo”, resumiu o antigo líder da FTX numa longa mensagem publicada no Twitter esta quinta-feira.
Danos colaterais
A crise da FTX levanta questões sobre o futuro de empresas mais pequenas, como a BlockFi e a Voyager Digital, que estavam a receber ajuda da FTX após o colapso das criptomoedas Luna e TerraUSD em Maio. Na altura, o valor da criptomoeda Luna passou de 20 mil milhões de dólares a quase zero em 24 horas, num crash que os especialistas tiveram dificuldade em explicar. A situação foi apelidada por alguns como o “momento Lehman Brothers” das criptomoedas.
"Infelizmente, este episódio levou a uma maior erosão da confiança no sector cripto. Como sabemos, a confiança leva anos a construir e segundos a perder. E quando se procura activamente por falhas, estas serão encontradas”, defende em comunicado Torsten During, especialista na HANeft, uma plataforma independente de fundos negociados em bolsa (ETF na sigla inglesa, exchange traded fund). “Suspeitamos que isto tornará o mercado menos líquido e as condições de empréstimo menos favoráveis”, conclui During.
A Binance, que inicialmente ia ajudar a FTX a lidar com a crise de liquidez, revogou o apoio depois de receber relatos de má gestão de fundos por parte da bolsa de Sam Bankman-Fried. “Na sequência de uma auditoria jurídica, bem como das últimas notícias relativas a fundos de clientes mal administrados e alegadas investigações de agências americanas, decidimos que não iremos prosseguir com a potencial aquisição da FTX.com”, lê-se num breve comunicado da empresa sediada em Malta.
O Departamento da Justiça dos EUA e a entidade que regula o mercado bolsista no país, a Securities and Exchange Commission (SEC), estão entre as organizações que abriram investigações às operações da FTX.