Câmara do Porto disponibiliza Silo Auto para receber músicos do Stop
Há um projecto privado para reabilitar antigo centro comercial, onde mais de 500 músicos têm casa, mas autarquia duvida da sua exequibilidade. Se não se concretizar, há um plano B.
O plano é, para já, “esgotar” a hipótese de manter aberto o antigo centro comercial Stop, casa de cerca de 500 músicos que ali têm salas de ensaio e estúdios. Mas, se tal não for possível, a Câmara do Porto promete não deixar os artistas sem tecto: os últimos dois pisos do Silo Auto, sem uso actualmente, poderiam ser reconvertidos para os receber, disse Rui Moreira na reunião de câmara desta segunda-feira.
A administração do Stop apresentou à autarquia um projecto de arquitectura para reabilitar o centro comercial aberto no início dos anos 1980. Esse projecto — disse o autarca aos vereadores, a propósito de uma proposta de recomendação da CDU sobre o tema — já foi aprovado, a 31 de Maio deste ano, decorrendo, agora, o prazo legal para a apresentação dos projectos de especialidades. “Mas será que as obras serão realizadas? Duvido”, afirmou Rui Moreira, referindo-se aos custos elevados da empreitada e também ao facto de o espaço não ter um único proprietário, mas “90 e tal”.
Essa realidade foi, aliás, a principal barreira à intenção antes anunciada de a autarquia comprar o edifício na Rua do Heroísmo. Encontrar todos os proprietários — e negociar com todos — tornou a ideia uma missão impossível, argumentou.
O problema não é exclusivo do Stop, acrescentou o vereador Pedro Baganha, juntando mais dois “centros comerciais de primeira geração” a essa lista de imbróglios da cidade: o Dallas e o Brasília. O primeiro, recordou, motivou até a realização de um plano de pormenor, ainda antes de Rui Moreira ser presidente da autarquia: “Desde aí até agora, nada se fez. Continua devoluto, uma carcaça no meio da Avenida da Boavista. É impossível contactar os proprietários. É um beco sem saída.”
O vereador com a pasta do Urbanismo apelou aos vereadores de partidos com representação parlamentar para que levem o tema à Assembleia da República. “Só se pode resolver por via legislativa”, apontou, admitindo não ter uma proposta concreta sobre como o fazer.
Risco de fechar é real
Mas voltemos ao Stop. O antigo centro comercial não cumpre as normas de segurança contra incêndios e motiva, desde 2009, repetidas queixas de um munícipe vizinho por causa do ruído. O risco de o espaço fechar, antes mesmo de quaisquer obras serem realizadas, é, por isso, real, admitiu Rui Moreira, dizendo que a protecção civil terá de fazer essa verificação. “Não pode continuar como está hoje a funcionar. Não tem condições de segurança.”
Existe mesmo, no departamento de fiscalização da autarquia, um processo que determina a “cessação de utilização de todas as lojas sem autorização de utilização”, mas a “cessação coerciva” não foi, para já, determinada.
A ideia do Silo Auto como alternativa ao Stop já terá sido apresentada aos músicos por Rui Moreira. Mas o entusiasmo, relatou, não terá sido grande. “Disseram que não queriam, que queriam ficar no Stop.” O facto de o Silo Auto ser um open space terá sido o principal problema, mas Moreira garantiu que o município teria disponibilidade para fazer obras.
Além de “substituir as coberturas, porque têm fibrocimento”, poderiam ser criados compartimentos, afirmou perante o executivo. Mas teria de haver “partilha de estúdios”, num modelo semelhante ao que aconteceu no edifício Axa, na Avenida dos Aliados, no tempo de Rui Rio. “Os músicos querem gerir a sua vida, mas um edifício municipal teria de funcionar com um regulamento e com partilha”, disse. “É o limite até onde podemos ir.”
A solução mereceu aprovação de todos os partidos da oposição. Vladimiro Feliz, do PSD, sublinhou que o ideal seria manter o Stop a funcionar, mas que a “partilha colaborativa” no Silo Auto pode ser um bom plano B. Rosário Gâmboa, do PS, pediu a Rui Moreira que voltasse a levar a proposta aos músicos e à administração do Stop: “Teria muito valor para a cidade.” Teresa Summavielle, do BE, sublinhou que um open space “não resolve” o problema, mas que o Silo Auto seria “interessante”, caso haja reformulações.
A vereadora Ilda Figueiredo não quis retirar a sua proposta inicial, que motivou o debate, como Rui Moreira lhe sugeriu, acusando-a de ser “ilegal”. Os comunistas sugeriram que a autarquia tomasse posse administrativa do espaço, caso as obras não sejam possíveis, e insistiram, perante a argumentação de Rui Moreira, que tal era possível, tendo em conta o problema de segurança existente no espaço.