Thor, o viking, vai ser o primeiro a visitar os países todos sem andar de avião
Uma saga: 203 países. Este “viking moderno” deverá completar esta Primavera a sua missão, uma década depois de começar. “Qualquer coisa que valha a pena na vida não é fácil e devemos lutar por ela”
Quem? Torbjørn C. Pedersen, Thor para os amigos — e, acreditem, são muitos e o número aumenta de dia para dia —, um “viking moderno”, como o próprio se intitula. O quê? A odisseia de um homem que está prestes a visitar todos os países numa única jornada e, não menos importante, sem o recurso a um único voo. Porquê? “Gosto de citar uma resposta lendária de George Mallory [1886-1924] quando o alpinista inglês estava prestes a escalar o monte Evereste, ‘porque está lá”.
Não fomos confirmar porque não saberíamos como, mas Thor diz-nos que “ninguém jamais” pisou todos os países sem voar, isto antes de nos recordar que poucas pessoas realmente visitaram todos os países mesmo voando de avião — e que as que o fizeram terão sido sempre menos do que aquelas que, como Mallory, escalaram o monte Evereste. “Acho isso um pensamento interessante.” Nós também. Suficientemente interessante para roubar uns minutos a este viking, que, via e-mail, ajudou a satisfazer a nossa curiosidade.
“Fazer algo novo é emocionante e serve como fonte de inspiração e motivação para muitos. Alguns são naturalmente inspirados a visitar novos países e culturas distantes. Outros são inspirados a terminar os estudos, a casar... Isso fascina-me e faz-me pensar. De onde vem realmente a inspiração? Se eu não conseguir completar esta jornada, então algum dia alguém o fará”, escreve-nos Thor, que prevê completar a Once Upon A Saga (Era Uma Vez Uma Saga) quando chegar às Maldivas por volta de Abril de 2023. “Mas é difícil prever, pois depende muito da logística, de burocracias e da disponibilidade de outros em ajudar.”
Está quase a terminar esta viagem terrestre e marítima que, nas contas do dinamarquês ("Quantos países existem?! Essa é uma excelente questão"; a lista de Thor está no seu site), toca em 203 países e que originalmente estava previsto terminar em 2018. A aventura começou a 10 do 10 (Outubro) de 2013 às 10h10. Por essa altura, Torbjørn C. Pedersen ("um nome terrível para viajantes") já tinha viajado por todo o mundo. Mas para este projecto decidiu começar do zero, limpar o registo e terminar com a lista toda riscada. Thor pretende voltar à Dinamarca, onde nasceu, estudou e cumpriu serviço militar, mas só depois de passar “pelo menos 24 horas em cada país”.
“Se eu fosse um homem rico…”, escreve, “voar seria a escolha mais fácil. Mas qual é a graça do mais fácil?” Thor desloca-se sobretudo a pé e através de transportes públicos, comboios, autocarros e diferentes tipos de embarcações. Nunca comprou, pediu emprestado ou alugou nenhum veículo para ir do ponto A ao ponto B. E “definitivamente” não tem um motorista — a não ser os que o servem nos transportes públicos. “Dessa forma garanto logo que passo muito tempo com locais e com outros viajantes, uma maneira incrível de ver o mundo”, justifica. “No início desta viagem pensei que tinha embarcado num projecto sobre países. Mas rapidamente aprendi que estava num projecto sobre pessoas. Afinal, de que valem os países sem as pessoas?”, sublinha Thor, que costuma citar o autor Roy E. Stolworthy: “Um estranho é um amigo que nunca conhecemos antes”.
Certamente que sairá desta saga uma pessoa diferente, com poucas verdades absolutas — uma é esta: “Cada país tem o direito de ser visto como o melhor país do mundo” — e com a certeza de que “o mundo não é o que a maioria de nós acredita ser”. “Felizmente, até agora descobri que, embora o mundo não seja perfeito, a maioria das pessoas com quem compartilhamos este planeta são pessoas boas e bem-intencionadas. Política e religião são coisas importantes para algumas pessoas, mas muitas vezes acho que estas cinco coisas são muito mais importantes: família, comida, música, desporto e falar sobre o clima. Acredito que a maioria das pessoas pedem pouco mais do que sobreviver na vida e ver seus entes queridos prosperarem. É notícia? Aparentemente não, mas certamente representa a grande maioria de todos neste planeta — e provavelmente tu também.”
Thor viaja com um orçamento de 20 euros diários, plafond que inclui refeições, transportes, alojamento e visto. “É possível porque grande parte do mundo é muito barato para se viver e se comprarmos comida local e viajarmos como os locais. E muitas vezes consigo dormir nalgum lugar de graça”, explica o viajante, que às vezes já se sente “torturado” pelas restrições orçamentais. “Às vezes quero uma boa cama, mais luxo e um bife grande e gordo.”
Visitar os países todos sem voar “é como ganhar a lotaria”, procura descrever. “Se ganharmos um milhão de euros, pagamos as dívidas, compramos um carro, um barco, uma casa ou até mesmo deixamos de trabalhar durante alguns anos. Mas se ganharmos mil milhões não temos a menor ideia do que poderíamos fazer com o dinheiro. Torna-se tudo muito abstracto. É isso que eu penso, tipo ‘todos os países do mundo sem voar’...”
Torbjørn C. Pedersen tem “a honra” de viajar enquanto embaixador da boa vontade da Cruz Vermelha dinamarquesa. Como tal, representa e promove a Cruz Vermelha em 192 países. “Isso significa que a Cruz Vermelha está basicamente em todo o mundo”, sublinha.
Falta pouco para o fim desta saga. “Ainda viajo curioso”, confessa Thor. “O mundo é incrível e há muito o que aprender. Fico cansado às vezes e um pouco farto. Mas cheguei até aqui e não sou de desistir.”
Só mais duas perguntas para a recta final. Que planeta conheceste? “Em praticamente todos os países, ouvi as pessoas falarem sobre extremos climáticos. Dizem que não chove ou que chove de mais. Dizem que as temporadas estão a começar mais cedo ou mais tarde. As pessoas dizem-me que tiveram temperaturas extremas. Dizem que as tempestades são mais frequentes e mais fortes.” Um pensamento para o fim da viagem: “Quero que as pessoas saibam que qualquer coisa que valha a pena na vida não é fácil e que devemos lutar por ela. E quero que as pessoas saibam que, apesar das histórias horríveis nos meios de comunicação social, a maioria das pessoas em todos os países são apenas pessoas. E as pessoas vivem uma vida normal com família, alimentação, educação, trabalho, desporto, música, etc. Eu sei, eu já vi.”