O mar pode ser terapêutico e contribuir para a saúde mental, acreditam os surfistas

Várias associações de terapia de surf organizaram, nesta segunda-feira, em Cascais, uma “cerimónia tradicional” para marcar o Dia Mundial da Saúde Mental.

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Os participantes enfrentaram o tempo e surfaram Junta de Freguesia de Carcavelos e Parede

O dia amanheceu enevoado e chuvoso, mas na Praia de Carcavelos, o mar estava suficientemente calmo para um paddle-out, um ritual feito por surfistas, dentro de água, onde se reúnem em roda para marcar o Dia Mundial da Saúde Mental que se assinala nesta segunda-feira.

“O paddle-out é uma cerimónia muito antiga e tradicional que se usa simbolicamente. As pessoas pegam na sua prancha e encontram-se no outside que é para lá da rebentação das ondas”, explica a psicóloga clínica Ema Shaw Evangelista ao PÚBLICO, enquanto termina de vestir o seu fato de borracha.

A presidente e co-fundadora da Wave by Wave - Associação Portuguesa de Surf for Good revela que este é o segundo ano que organizam este evento, em conjunto com outras organizações, o Club Lombos Praia, a Surf Addict, a SurfArt e a Surf Social Wave. A principal área de trabalho da associação consiste em apoiar crianças e jovens que vivem em casas e famílias de acolhimento, meninos em situação de risco ou que necessitam de apoio psicológico, através do surf e do contacto com o mar.

A ideia para fazer um paddle-out surgiu, há um ano, de um desafio feito pela Organização Internacional da Terapia do Surf (conhecida pelo acrónimo inglês ISTO), para “marcar a importância da saúde mental e da sua normalização”, conta a psicóloga, no areal da praia cascalense.

Uma receita de sucesso

Antes de fundar a associação, em 2017, com o surfista José Ferreira, vice-campeão nacional, Ema Shaw Evangelista refere que nunca tinha praticado este desporto e que foi um projecto-piloto, no Verão de 2016, que a chamou à atenção das vantagens do surf.

“Essa experiência foi o que me marcou, eu percebi que isto faz todo o sentido. O mar é como se fosse um catalisador daquilo que é migrar para a praia os princípios de uma intervenção terapêutica de grupo”, explica a especialista. “O surf aparece como uma actividade que desafia, que trabalha muito a questão da frustração, da confiança, da auto-regulação e é uma receita em que, em muitas populações, se vê de facto melhorias. Estas já estão investigadas e publicadas”, acrescenta.

Esta terapia, para as crianças e jovens fragilizadas, é uma alternativa que “sai da caixa”, a pensar naqueles que não aderem às “respostas mais tradicionais da psicologia clínica em consultório ou no meio hospitalar”.

À medida que a manhã avança, aumenta o número de participantes que vai chegando, preparando-se atarefadamente, mas com uma calma inerente a quem pratica a modalidade. Juntaram-se ainda representantes de parceiros das associações como o presidente da Junta de Freguesia da União de Freguesias de Carcavelos e Parede.

Teresa Abraços, uma das pioneiras do surf feminino competitivo em Portugal, agora retirada das grandes competições, enfrentou o mau tempo para participar no evento. Para nós isto não é nada”, desdramatiza, ao PÚBLICO, a surfista que representou a selecção nacional de surf feminino. “O desafio de um elemento da natureza é uma coisa tão pequenina comparada aos desafios que os participantes costumam ter”, justifica.

Sendo voluntária na Surf Addict, uma associação dedicada à prática de surf adaptado por pessoas com deficiências físicas e motoras, para Teresa Abraços esta é uma maneira de partilhar a sua maior paixão com quem tem mais dificuldades. Assim, para a surfista, era indispensável a presença da associação no paddle-out.

Uma roda no oceano

Na areia, antes de partirem para o mar, os participantes, todos maiores de idade, reúnem-se num círculo e partilham palavras sobre a importância deste dia e da saúde mental.

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No mar, repetem a mesma formação que antes fizeram em terra. Numa roda, batem na água, formando espuma, e depois partilharam o que levaram desta experiência.

Ao todo, cerca de 40 pessoas participaram nesta actividade marítima, mantendo-se os números da primeira edição. Para a psicóloga, a roda é “um símbolo de união, de pertença e de partilha” naquela que considera ser a sua “segunda casa”, o oceano.


Texto editado por Bárbara Wong

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