Como podemos prevenir o cancro gástrico?
No Dia Nacional do Cancro Digestivo é fundamental lembrar que o cancro gástrico é o terceiro mais mortífero, sendo um problema mundial que poderá tornar-se ainda mais grave se nada se fizer. A boa notícia é que pode ser evitado: a resposta está na prevenção e no diagnóstico precoce.
O Dia Nacional do Cancro Digestivo, que se assinala nesta sexta-feira, pode e deve servir de alerta para a elevada prevalência deste tipo de tumores — em que se incluem o gástrico, o colorretal, do fígado e do pâncreas — assim como para a enorme importância do diagnóstico precoce.
O cancro gástrico, particularmente, permanece um problema mundial, sendo o terceiro que provoca mais mortes. Apesar da redução observada na incidência — número de novos casos por pessoas em risco —, devido fundamentalmente ao envelhecimento e à persistência de fatores de risco, vai existir um aumento em 30% no número de novos casos até 2035 se “nada” for feito.
Em Portugal, aproximadamente uma em cada 60 pessoas irá ter cancro gástrico e, em menos de 20 anos, esta doença representará a causa de morte para nove portugueses por dia.
O que se sabe que pode ajudar a melhorar este cenário? Isto é, como podemos reduzir a possibilidade de vir a morrer de cancro gástrico em Portugal? A resposta está na prevenção e no diagnóstico precoce. Até porque, pelo menos para as formas mais frequentes de cancro gástrico, são conhecidos os principais fatores de risco, estão determinadas as condições e lesões que precedem esta doença e existe a possibilidade de diagnóstico precoce através de uma endoscopia digestiva.
Em termos de prevenção, o que podemos fazer? Devemos conhecer a nossa história familiar de cancro gástrico e, juntamente com os médicos assistentes, discutir a melhor atitude a assumir. Normalmente, deverá ser recomendada uma endoscopia digestiva alta de rastreio e a observação da mucosa, com biópsias para definir o risco e a possível presença de infeção pela bactéria Helicobacter Pylori, uma das infeções mais frequentes em todo o mundo, assim como o seu tratamento. Em alguns casos, poderá ser justificável outras atitudes e eventualmente um estudo genético.
Igualmente, devem ser adotados hábitos saudáveis, incluindo uma dieta rica em antioxidantes e pobre em sal. Isto para além de não fumar.
Paralelamente, é muito importante estar atento aos sintomas digestivos e recorrer precocemente a cuidados médicos. Na maioria das situações, o médico assistente irá tranquilizar e estabelecer cuidados gerais que resolverão as queixas. Contudo, atendendo ao contexto muito próprio do nosso país, poderá recomendar uma endoscopia digestiva alta. Este é um exame muito relevante já que é o teste de referência para a maioria das patologias do tubo digestivo superior.
Em Portugal, podemos também considerar associar a endoscopia digestiva alta à realização de uma colonoscopia aquando do rastreio do cancro do cólon e recto. Esta atitude tem proporcionado um aumento da deteção de neoplasias ou tumores precoces, o que estamos certos representa, juntamente com todas as outras medidas, um ganho em saúde para todos.
Na endoscopia digestiva alta, toda a cavidade gástrica é observada e, com os métodos hoje disponíveis, poderão ser excluídas a presença de neoplasias. Através de biópsias serão identificadas ou excluídas a presença de condições pré-malignas, que poderão justificar algum tipo de vigilância.
No caso de diagnóstico de cancro, é importante a avaliação por uma equipa multidisciplinar que, em conjunto, vai avaliar o melhor tratamento para cada caso, considerando o tipo de tumor, em que fase se encontra e todas as outras variáveis, incluindo a perspetiva do doente.
Sabemos hoje que, tendencialmente, a realização a tempo e horas de uma endoscopia digestiva alta pode detetar estas neoplasias numa fase precoce. Se assim for, é possível efetuar um tratamento endoscópico para a remoção da lesão. É, por isso, muito importante a vigilância regular e a deteção precoce. Consulte o seu médico.
O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990