Os meus filhos são mais velhos do que eu
Os investigadores destas coisas do envelhecimento garantem que as pessoas que se sentem mais novas, são mais saudáveis e psicologicamente mais resilientes do que aquelas que se sentem da sua idade cronológica, ou até mais velhas do que isso.
Querida Filha,
É tão divertida a percepção da idade em que a pessoa é “velha”. Sempre achei a minha avó velha e, no entanto, quando hoje faço as contas concluo que quando tinha dez, ela teria a minha idade ou seria até mais nova do que sou agora. E eu não me vejo como velhinha.
Quando a minha mãe se queixou de que o teu avô estava esquecido eu, do alto dos meus 30 anos, exclamei: “Mãe, temos de aceitar, o pai já tem 60 e tal, é natural que se esqueça das coisas.”
Ainda tenho vontade de fazer uma birra quando me tratam por “senhora”, e dou saltos de contente sempre que estou no Porto, onde os taxistas e os empregados das lojas me chamam “menina”.
Mas hoje decidi tentar perceber esta espécie de miragem e, pelos vistos, o fenómeno está estudado: consideramos velhas as pessoas que têm mais 20 anos do que nós. É esse o intervalo de tempo que define a nossa percepção do intervalo de gerações.
Certo. Explica porque é que nos achamos perfeitamente integráveis no grupo de adolescentes dos nossos filhos, e eles morrem de vergonha só de nos ver aproximar. E justifica também o sorriso largo que não conseguimos evitar quando uma avozinha lamenta a morte de uma amiga de 95 anos, alegando que era muito nova para aquele trágico destino.
Mas — e agora é que chegámos ao ponto realmente importante desta carta —, a verdade é que a certa altura os nossos filhos parecem-nos estar a envelhecer mais depressa do que nós. No outro dia, num encontro com leitores, perguntaram-me que idade tinham os meus filhos, e eu respondi de rajada: “São todos mais velhos do que eu!”
Pois é, quando me vejo ao espelho não tenho ilusões, mas quando me penso, tenho pouco mais de dez anos, sou a irmã mais nova de uma fratria grande, e ainda posso usar tranças como as da Pipi das Meias Altas. Este jet lag entre a realidade e a ficção faz bem a tudo, mas pode ser estilhaçado por uma selfie ou qualquer outra fotografia, o que me leva a decretar que a partir dos 50 anos sejam proibidas.
E os teus filhos também já te ultrapassaram?
Querida Mãe,
Hahaha, ainda não! Na minha mente tenho 16 anos, por isso ainda me restam quatro anos para ser a mais velha deste bando!
Mas, mãe, tenho boas notícias! Os investigadores destas coisas do envelhecimento garantem que as pessoas que se sentem mais novas, são mais saudáveis e psicologicamente mais resilientes do que aquelas que se sentem da sua idade cronológica, ou até mais velhas do que isso.
Num estudo publicado em 2018, investigadores da Coreia do Sul observaram, através de ressonância magnética, os cérebros de 68 adultos com mais de 60 anos e confirmaram que os que reportavam sentirem-se mais novos revelavam, de facto, menos “estragos” relacionados com a passagem dos anos. Em contraste, os que se sentiam mais velhos tinham realmente um risco acrescido de virem a necessitar de cuidados médicos, sofrerem de demências e de uma morte mais precoce.
Embora não seja possível determinar com certeza se é causa ou efeito (as pessoas com mais saúde podem sentir-se mais novas), já é certo que perguntar a alguém com que idade se sente é uma forma segura de recolher pistas sobre seus os riscos de saúde efectivos. Por isso, mãe, espero que continue a sentir-se com dez anos durante muito tempo!
Beijinhos.
O Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. E, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam.