Ainda não ocupa o cargo mas pelo menos as suas competências estão já a levantar celeuma: o líder da Iniciativa Liberal (IL) considera que o novo director do serviço Nacional de Saúde (SNS) vai “esvaziar de funções” o Ministério da Saúde - e até avisa que no fim do processo poderá haver quem fique a mais: ou Fernando Araújo ou o ministro da Saúde.

“O doutor Fernando Araújo tem um currículo que fala por si e portanto de currículo estamos conversados e é uma boa escolha”, elogiou João Cotrim de Figueiredo em declarações aos jornalistas no arranque das Rotas Liberais, um programa de visitas que o líder da IL realiza este fim-de-semana no distrito de Viseu.

“Agora falta o resto: não há homens providenciais que, num contexto de uma organização de um SNS que não seja que façam milagres”, avisou o liberal. Mas é o olhar para o futuro que levanta dúvidas ao sucesso da estratégia do Governo.

“O que ontem vimos anunciado não foi só um nome; foi também uma estrutura, que é confusa. Já tínhamos avisado que ou ficava muito claro quais eram as competências ou haverá choques de competências não só entre os organismos que agora foram criados mas entre aqueles que já existiam como as ACS [agrupamentos de centros de saúde], ARS [administrações regionais de saúde], e a própria DGS [direcção-geral de saúde]. Há uma série de competências que ficam sobrepostas”, vincou o deputado e líder da IL. “Creio que foi até por isso que o dr. Fernando Araújo precisou de mais tempo para aceitar o convite”, alvitrou.

E insistiu: “Aquilo que a IL avisou que ia acontecer está a acontecer: confusão instalada na forma como o modelo está desenhado.”

“Desejamos sorte ao doutor Fernando Araújo. Até porque dentro do estatuto novo do SNS há possibilidade de instalação dos sistemas locais de saúde onde, espero eu, dê provas de que é capaz de atrair para a solução dos problemas de saúde locais não só os prestadores públicos mas também os prestadores privados e sociais que também operam em tantas zonas do território”, apontou João Cotrim de Figueiredo, numa referência a uma das bandeiras do partido de maior abertura à participação de todo o sistema de saúde na actividade do SNS.

Cotrim de Figueiredo avisou ainda que “se ele desempenhar as suas competências tal como está a pensar desempenhá-las, vai esvaziar o Ministério da Saúde de funções. Ou temos um director executivo do SNS ou temos um ministro da Saúde - não se sabe bem qual dos dois vai ficar a mais no final deste processo.”

O líder liberal rematou: “A saúde dos portugueses só ficaria efectivamente resolvida se se fizesse a reforma profunda que a IL tem vindo a defender.”