Como é que os arranco da cama?!

“Uma coisa é vencer a nossa própria objecção de consciência à obrigação de sair da cama de madrugada outra, mil vezes pior, é termos de pôr de pé e arrastar para fora de casa, vestidos e arranjados, três filhos regulados pelo mesmo ritmo biológico do que nós, ou seja, geneticamente noctívagos.”

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@DESIGNER.SANDRAF

Querida Ana,

A tua birra de ontem fez-me ir rebuscar entre os meus diários e papéis memórias dos Setembros de quando vocês eram pequenos e, pela enésima vez, respirei de alegria por já ter deixado para trás o papel de despertador da família inteira. Que pesadelo.

Como sabes odeio manhãs, mas uma coisa é vencer a nossa própria objecção de consciência à obrigação de sair da cama de madrugada outra, mil vezes pior, é termos de pôr de pé e arrastar para fora de casa, vestidos e arranjados, três filhos regulados pelo mesmo ritmo biológico do que nós, ou seja, geneticamente noctívagos.

Cá para mim os horários da escola não deviam ser determinados pela idade do aluno, ou pelo ano de escolaridade que frequenta, mas pelo seu ritmo circadiano. Faziam-se umas provas médicas quaisquer que permitissem aferir as melhores horas para aprender e decidiam-se as turmas em função dessa informação. O mesmo se aplicava aos professores.

A sério, tenho a certeza absolutinha de que a minha escolaridade teria sido muito mais feliz e produtiva num horário das 11 da manhã as sete da tarde, ou mesmo das duas às nove da noite.

Achas que mande esta minha sugestão ao ministro da Educação? Com mais um ano que começa com falta de professores, talvez fosse uma boa maneira de resolver o problema.


Querida Mãe!

Ohh subscrevo a sua petição pública e dou-lhe uns argumentos! A BBC Terrific Scientific, em parceria com a universidade de Oxford, acabou de divulgar os resultados de um estudo, levado a cabo no Reino Unido, que revela que as crianças mostram maior rapidez e reactividade durante a tarde, ao contrário da crença generalizada de que as crianças funcionam melhor de manhã. É esse mito que leva a que as escolas montem horários em que privilegiam disciplinas como a matemática e o português para o período antes da hora do almoço o que, pelos vistos, falha a marca. Um outro dado interessante deste trabalho é que 68% das crianças assumiam-se como uma pessoa “mais de tarde”, o que prova que a mãe não está sozinha.

Face a tudo isto, os investigadores recomendam que, ainda que não se mudasse as disciplinas de horário, que pelo menos se trabalhasse a questão do sono de manhã, promovendo actividades e um ambiente que ajudasse a acordar.

Por isso estou consigo: mande, mande a sua sugestão ao ministro, e peça aos nossos governantes e às universidades mais investigação nesta área que tem um impacto tão profundo na aprendizagem.

Entretanto, durma até que horas lhe apetecer, sem culpas, nem remorsos.

Beijinhos!


O Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. E, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam.

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