Sexo não engorda, relaxa e ainda é uma actividade gratuita para os casais. Ainda assim, quem num relacionamento longo nunca teve preguiça e preferiu descansar um pouco em vez de transar quando teve um tempinho livre?
Para não perder os benefícios da prática e a intimidade conjugal, entretanto, os especialistas recomendam que parceiros sejam pragmáticos e reservem um tempo na agenda para as relações sexuais.
De acordo com a psicóloga e sexóloga Camila Kurdian, de 27 anos, o sexo com hora marcada é necessário e saudável para casais com muitas demandas como trabalho e filhos. “O casal precisa pelo menos saber quando é um bom momento para a relação sexual: pode ser um sábado, um final de semana, um dia de noite que eles chegam mais cedo do trabalho”, afirma.
Segundo a especialista, só há problema quando se confunde planear o sexo com um compromisso inflexível. “Para ter desejo, libido, a gente precisa desejar aquela relação sexual. Muitas vezes, quando o casal só coloca na agenda e sabe que vai rolar, não se esforça para gerar esse erotismo”, diz Kurdian.
Ir para cama com hora marcada, mas sem empenho, pode até funcionar por algum tempo, porém, inevitavelmente, vai gerar afastamento e pode até agravar problemas emocionais e disfunções sexuais, diz a psicóloga.
“Marcar a relação tem que vir acompanhado de erotismo no dia-a-dia. Nada mirabolante, são pequenas coisas pequenas que precisam ter atenção e prioridade”, aponta Kurdian.
Esses preliminares contínuos ao longo da semana vão desde um beijo mais prolongado, uma conversa sincera sobre o que outro gosta, uma massagem, tomar um banho juntos até só fazer um carinho sem que seja para terminar na cama. “Tudo isso gera intimidade e antecipação da relação sexual para que quando chegue no momento da agenda, esse casal já esteja minimamente íntimo e se desejando”, afirma a psicóloga.
A médica sexóloga Débora Fernandes Britto concorda que marcar um horário pode ajudar, mas também reforça que é necessário compreender os objectivos desse tipo de opção para que a vivência da intimidade erótica e da sexualidade seja favorecida.
“Não se trata de programar um acto sexual com hora marcada simplesmente, mas na verdade de incluir na agenda de vida desse casal um tempo de qualidade para a vivência da intimidade conjugal, um tempo para estarem juntos, um para o outro”, destaca Britto.
O médico Albert Nilo, de 42 anos, professor na Universidade Federal de Minas Gerais, porém, diz que a perda da espontaneidade pode gerar ansiedade e angústia para algumas pessoas.
“Sexo é vida, mas a gente precisa de consciência dos limites [de cada um]. Quando casais e pacientes relatam perda de libido, procuramos entender porque houve essa perda”, afirma Nilo.
A monotonia da relação, os problemas hormonais da idade, o excesso de stress e trabalho e até a idealização dos momentos são itens que, para o médico, precisam ser observados individualmente para um tratamento adequado. Nesses casos, acompanhamento terapêutico profissional pode ajudar.
Além disso, embora o sexo melhore a saúde psicológica das pessoas, quando ocorre por obrigação, pode piorar a falta de libido, alerta a psicóloga Camila Kurdian. “Muitas mulheres após os 40 anos, como já estão em casamentos muito longos, até fazem sexo, mas é uma relação sem erotismo. E isso pode gerar uma mulher frustrada, com disfunção sexual, que não se sente desejada”, afirma.
As demandas domésticas e de cuidado dos filhos, que ainda tendem a recair sobre elas, também afectam o equilíbrio do sexo conjugal e do desejo.
“Porque é que atribuímos às mulheres essas obrigações? Elas têm muitas vezes uma vida profissional tão densa quanto seu parceiro. A desigualdade na divisão do trabalho [doméstico] pode sim sobrecarregar as mulheres e interferir na disponibilidade tanto para pensar em sexo quanto para ter energia física para viver o acto sexual com entrega e satisfação. Talvez não falte apenas tempo”, reforça a profissional.
Débora Fernandes Britto destaca que até a famosa “rapidinha” pode perder seu brilho se não atender o interesse de ambos.
“Se a mulher precisar de um maior tempo de investimento emocional e estimulação erótica para sentir-se excitada e conectada, [a rapidinha] pode não ser tão interessante para ela. E pode até mesmo trazer sentimentos de desconexão e insatisfação”, alerta a sexóloga.
Para Britto, investir no autoconhecimento e no alinhamento de expectativas e limites ajuda a ampliar o repertório.
“A sexualidade é uma dimensão da vida e ter uma vida sexual satisfatória pode reforçar sentimentos positivos de auto-estima. A demanda de vivência do afecto [para] além do sexo pode reforçar os sentimentos de conexão emocional e intimidade”, conclui a médica.
Exclusivo PÚBLICO/Folha de S.Paulo