Rússia e Ucrânia trocam acusações sobre ataque à maior central nuclear da Europa
Depósito de armazenamento de combustível e sensores de detecção de fugas radioactivas foram atingidos. Zelensky pede sanções contra a indústria nuclear russa.
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A central nuclear de Zaporijjia passou, no fim-de-semana, para a linha da frente da guerra na Ucrânia, com Moscovo e Kiev a acusarem-se mutuamente de ataques às instalações situadas no Sul do país, depois de a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) ter advertido que o risco de desastre nuclear “é muito sério”.
Este domingo, a Rússia acusou o Exército ucraniano de ter disparado, durante a noite, um míssil contra a maior central nuclear da Europa, enquanto a autoridade atómica da Ucrânia, a Energoatom, disse que foram as forças russas que abriram fogo sobre as instalações.
“Três sensores ficaram danificados pelo fogo inimigo. O pessoal da central nuclear não poderá detectar a tempo se houver uma fuga de radiação dos contentores de armazenamento de combustível utilizado”, informou a Energoatom na sua conta na rede social Telegram, acrescentando que um funcionário da central ficou ferido pelos estilhaços.
As acusações foram devolvidas pela administração russa na cidade vizinha de Energodar, que responsabilizou as forças ucranianas pelo disparo de um obus de 220 mm armado com munições de fragmentação contra a central nuclear. Ucrânia e Rússia concordaram numa coisa: que o ataque causou danos num depósito de combustível nuclear usado e em vários sensores utilizados para detectar fugas radioactivas.
Segundo informou este domingo o governador regional de Zaporijjia, Oleksandr Starukh, não foi detectada qualquer fuga radioactiva, com os testes entretanto efectuados a acusarem valores normais de radiação.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, descreveu o ataque à central como “terror nuclear” numa publicação na sua conta no Twitter, afirmando que, durante um telefonema com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, apelou à imposição de sanções à indústria nuclear da Rússia.
No sábado, o director-geral da AIEA, Rafael Grossi, considerou “completamente inaceitável” a colocação da central em perigo e argumentou que visá-la militarmente é “brincar com o fogo”, com “consequências potencialmente catastróficas”.
Na sua análise à situação no terreno, o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês), adiantou no sábado que a Rússia poderá estar a armazenar explosivos e munições nos arredores da central nuclear de Zaporijjia. Citando o Insider, uma publicação russa independente, o ISW escreveu que as forças russas colocaram minas na sala da turbina do bloco de energia 1 e em redor da central, ao mesmo tempo que deslocaram 500 soldados e armas antiaéreas para o interior das instalações.
Segundo o Insider, as forças russas colocaram também baterias de rockets Grad perto da vila de Vodyane, a aproximadamente 4km dos reactores da central de Zaporijjia.
Mais quatro navios com cereais
Entretanto, mais quatro navios de transporte que estavam retidos desde o início da guerra zarparam este domingo dos portos ucranianos de Odessa e Chornomorsk, no mar Negro, no âmbito do acordo assinado por Kiev e Moscovo com a mediação da ONU e da Turquia para retomar as exportações de cereais.
Entre os navios que deixaram os portos ucranianos está o Glory, com uma carga de 66 mil toneladas de milho com destino a Istambul, e o Riva Wind, carregado com 44 mil toneladas para Iskenderun da Turquia, informou o Ministério da Defesa turco.
Os outros dois cargueiros são o Star Helena, que transporta 45 mil toneladas de farinha com destino à China, e o Mustafa Necati, com 6 mil toneladas de óleo de girassol para Itália.
Já o primeiro cargueiro a zarpar dos portos ucranianos ao abrigo do acordo entre a Rússia e a Ucrânia, o Razoni, que partiu de Odessa na última segunda-feira, chegou este domingo ao seu destino, o porto libanês de Tripoli.