Para celebrar a ostra, basta juntar espumante
Por sugestão de vários escanções, eis alguns espumantes que ligam bem com ostras, que teimam entrar na rotina dos portugueses. Devíamos comer ostras como quem come croquetes ou pastéis de bacalhau. A 5 de Agosto celebra-se o Dia Mundial da Ostra.
No pote dos dias mundiais disto e daquilo sai-nos hoje — 5 de Agosto — a ostra. Bela data, apesar de Portugal ter um caso misterioso com as ostras: amamos todo o tipo de bivalves, mas temos medo das ostras; sabemos que uma coisa é uma ostra de Aveiro e outra a de da Ria Formosa, mas não ligamos ao conceito de terroir; pagamos fortunas por mariscos variados, mas achamos que um quilo de ostras por 12 ou 15 euros é um assalto. Onde está a origem deste mistério? No sítio do costume: no desconhecimento e na ausência de estratégias — públicas e privadas — para a promoção de um recurso marinho rico, nobre e sustentável.
A ostra é só o prolongamento da cultura organizacional da produção de alimentos em Portugal: o granel. Assim como exportamos mel em bidões, azeite em cisternas, amêndoa às toneladas e porcos em largas varas que se empanturraram com as bolotas dos montados nacionais e seguiram depois para as grandes casas de presunto de Espanha, também mandamos o grosso da produção das nossas ostras (com números que nunca indicam a realidade) para França, por forma a que os grandes operadores locais façam os seus negócios para o resto do mundo. Os papers académicos gastam rios de tinta com o conceito de valor acrescentado, mas isso aplica-se a tudo, menos à agricultura portuguesa. O nosso destino é criar bens alimentares para que outros façam as mais-valias. É a vida.
Ainda assim, aos poucos, aparecem no mercado (retalho e restauração) ostras de grande qualidade, de diferentes terroirs e com preços em conta. Se é certo que é muito mais fácil encontrar ostras no litoral do país, alguns produtores mandam rapidamente encomendas para qualquer parte do país. Agora, que problemas costumam colocar-se nesta matéria? Os vinhos que as acompanham, pois então.
Podem ser de perfil variado, mas, hoje, e porque não há maneira de controlar este Verão radical, vamos apostar em espumante. Espumante, e não Champagne.
Lançamos o desafio a três escanções portugueses: “têm um minuto para dizer quais são as vossas duas melhores opções para acompanhar ostras. Não queremos pensamentos elaborados ou tácticas comerciais – é o que vos sai agora”.
Começa Manuel Moreira. “Duas sugestões bem diferentes: o Quinta do Boição (13 euros), um Arinto de Bucelas, pelo facto de os solos calcários darem notas salinas ao vinho e isso ligar bem com as ostras. E o Quintas de Melgaço Reserva (17 euros), por ser muito persistente, coisa que é essencial na ligação com o bivalve que tem uma intensidade e prolongamento de boca impressionante”.
João Chambel recomenda o Luís Pato Vinha Pan 2017 (23 euros), “pelo seu carácter mineral e complexo (nada de fruta) e pela cremosidade de boca, ou o Alvarinho Soalheiro (14 euros), para quem prefira uma estrutura mais intensa e uma bolha mais grossa, que por vezes ajuda quando as ostras têm uma intensidade marinha pronunciada”.
Por sua vez, Nelson Guerreiro avança com o “Hibernus Bruto Permier (29 euros), pelo facto de, no meio da complexidade, evidenciar notas minerais, cítricas e salinas, bem como, pela questão da evolução, o Ninfa Platium (60 euros), que está cheio de notas terciárias e misteriosas dadas pela casta Pinot Noir”.
Se o leitor quiser saber mais sobre ostras – e em diferentes aspectos – pode rever um trabalho do PÚBLICO realizado no âmbito do projecto Todo o Peixe é Nobre, onde há, também, outras sugestões de espumantes do escanção Diogo Yebra, em particular o Raul Riba d´Áve Sílica (14 euros). Que não vos falte nada.
P.S.:
Nota muito, mas muito importante. Pela vossa saúde, só comprem ostras com o selo de garantia de uma depuradora. Não se armem em campeões a comer ‘ostras acabadas de sair da ria’ que isso pode dar para direito a um ou dois dias de estadia ao lado da sanita. Não há necessidade de estragar as férias.